sexta-feira, abril 24, 2009

o assobio

O céu acinzentava de forma crescente enquanto eu lutava para que o lume do isqueiro fosse o lume do cigarro com a palma da minha própria mão. E o céu, indiferente, esboçava-se, nubloso em várias camadas de tons opressivos e escuros, numa inevitabilidade de claustrofobia em altas altitudes. O lume bruxuleava e fugia, em passes de magia desgastados de tão repetidos, como os que os adultos fazem com as palmas das mãos aos bebés pequeninos. Ainda tentava abanar o isqueiro, desencantar uma forma de ele não me deixar na mão, com o monstro que tinha a crescer dentro de mim e que só sucumbiria às mãos daquele cigarro piedoso, quando todo o resto do céu e da terra eram uma ditadura de fins monótonos e maquiavélicos. Aquele cigarro era a minha única esperança, e o lume a minha arma, fugia-me. Eu desesperava.
Até que consegui. E o alívio correu-me boca laringe pulmões poros ar e nariz e boca novamente. E ao cinzento da minha vitória apenas temi que se perdesse nas nuvens da minha desgraça.


"If only I could be as cool as you
As cool as you

Body and soul Im a freak Im a freak
Body and soul Im a freak"

- Silverchair

sexta-feira, abril 10, 2009

t.o.t.w.h.n.m.

Santa Luzia no nevoeiro: a virgem nos rochedos minhota.
Arq. Piça Vieira faz maravilhas de engenho à beira rio, precedidas por távoras quadradas desertas e acheirar mijo.
Amorosas lembranças quedam-se distantes, em almofadas de areia branca.
O mar estava cinzento e queria a terra. Como os amantes que se querem à distância. Por carta.



[Innerspirit - Soulfly]

domingo, abril 05, 2009

c'est vrai

morte a todos os não crentes, infiéis, proscritos, traidores, idiotas, cretinos, fascizóides, submissos, cães, bestas, filhos da pior puta, estupores, cabrões, ignóbeis, mesquinhos, cegos, marionetas, egoístas, imbecis, vira-latas vira-casacas, morte a todos eles! morram, porque não vêm a verdade do meu lado

sábado, abril 04, 2009

civil war



bem planificado, perfeitamente justo
não há tempo.
de fazer o que não feito ainda.
perfeitamente justo o peso
do passo em falso por dar
perfeitamente justo o remorso
enrodilhado no esófago da rotina
do tempo que já acabou
para dar um passo em verdade.

sexta-feira, abril 03, 2009

2/4/2009

Com que direito
te vestes na toga
do inaceitável
argumento
e dedo no ar
do fascismo
provinciano e
fácil mal dizer
queirosiano
e sem querer
como quem não quer
dizer, matas
a luz que eu embalava
para vós, júri
de minha alma,
doce ternurna
do meu juízo.



Quando eu morrer ( GNR ) - Xutos & Pontapés