segunda-feira, julho 26, 2010

a batata quente.

passei-te um desabafo, para que corresses
quando acontecesse o que fosse:
nós sabemos.
quando eu fizesse a minha parte,
quando eu corresse para longe dali
e tu pudesses fotografaro rasto,
para que o mundo todo visse.
passei-te um peso, que o tempo
tornou insuportável, porque o tempo
é clarividente, omnisciente e puro:
nada há que lhe sobreviva ao saber.
o peso fez esse peso insuportável
e desnecessário. não fazia sentido
algum tu esperares que essa rota
te atingisse a ti, com um futuro
tão brilhante pela tua frente.
não fazia sentido.
não faz sentido
haver algo a passar
ou alguém para o receber
ou outro alguém para a passagem.
estarei sozinho na risca do fim.

sexta-feira, julho 23, 2010

"Can you see them rushing in?
Hate to think how long it's been
Wasting time at finding faults
Voice a question, take a shot

I don't want you to think I do these things I do because of you

Tightly kept from misread words
Wash away those things you heard

Let's pretend that everything is just fine.
Let's pretend that everything is alright."


- Blood Red Shoes

terça-feira, julho 20, 2010

a meio caminho do número da besta. cravado em carimbo num distintivo de cortiça. dois terços de apocalipse já atingidos, atrelam-se ao quilómetro assinalado supra e faz a papelada preencher-se sozinha. amanhã avaliar-se-ão méritos. hoje embolsar-se-ão subsídios espontaneamente financiados pela livre consciência de cada um em ver sofrer quem ama. dito e feito: saireis daqui homens.

segunda-feira, julho 19, 2010

"gonna walk walk walk
four more blocks plus the one in my break
down downstairs to the man
he's gonna make it all ok
i can't beat myself
i can't beat myself
and i don't want to talk
i'm taking the cure so i can be quiet
whenever i want
so leave me alone
you ought to be proud that i'm getting good marks"

- Elliot Smith

domingo, julho 18, 2010

Causa Perdida (pt.1)

"Tinha uma das mãos na arma,
A outra na cabeça,
Decidiu abandonar
A sua própria existência.
Tantos anos de luta, labuta,
Anti-depressivos na gaveta.
Em cima de uma pilha de livros
Resignado, sem nenhuma dignidade,
Num quarto degradado
Na baixa da cidade.
Poeta visionário com rima sublime,
O seu pai tinha sido assassinado
Pelo Regime.
Acende um cigarro, sentado.
Ex-combatente no braço tatuado
E pensa "já não vale a pena lutar"
Relembra num poema a sua mãe a olhar
No vazio, dois filhos para criar,
A chorar o seu amor que não iria voltar.
Mas a realidade voltou.
A dor apertou
O coração e foi aí que o gatilho soltou
O som...

Chamei-me teimoso, obstinado, persistente.
Caio e levanto-me, obcecado, resistente.
Sinto um certo magnetismo pelo abismo.
Cerro os punhos, lanço golpes de exorcismo.
Os demónios interiores permanecem vivos,
Tenho que os manter latentes, adormecidos.
Continuo suspenso na ponte do rio sem margens,
Com visões de um futuro passado em miragens.
Param os relógios, o chão desaba a meus pés,
Glaciais degelam, sobem as marés.
Convicto percorro o meu caminho com fé.
Apesar das vozes que sussurram "Desiste mas é!"
As multidões rezam a S. Judas Tadeu.
Eu movo dimensões quando venço o céu bréu.
Trespassado por mil sabres no momento derradeiro.
Estarei de cabeça erguida, sou guerreiro.

Contra tudo e contra todos,
Contra ventos e marés,
Lutas na causa perdida
Sem saberem quem tu és."


- Dealema

quarta-feira, julho 14, 2010

Sucker




"When I fall asleep and take a peek indoors,
I will take what's mine, and you take what's yours.
You're playing with loaded dice and a gun in the drawer,
but now why don't you even the score?

There's one born every minute.
Sucker.
Sucker.
So keep it in your pants, boy.
Sucker.
Sucker.
What makes you think you're my only lover:
the truth kinda hurts don't it motherfucker?

Sucker.

You see my fingers twitching, and my nervous glance,
I thought you were bluffing, but you saw my hand.
Lost in phony laughter and three mixed drinks,
it's time to take a chance, i think.

There's one born every minute.
Sucker.
Sucker.
So keep it in your pants, will you?
Sucker.
Sucker.
What makes you think you're my only lover:
the truth kinda hurts don't it motherfucker?

Sucker"


- Peeping Tom

terça-feira, julho 13, 2010



"Depois tu vens cantar comigo
Vens sonhar no meu colchão
Beber do meu vinho
Comer do meu pão.

Fazer-me girar no teu carrossel
Viciar-me no aroma da tua pele.

Partimos em viagem,
Paramos para dormir.
Sussuras-me umas coisas
Que eu nem posso repetir.

E sais para a rua por estar a chover
pões-te em pose, eu fico a ver.

E sempre que te vejo
Eu deixo de respirar.
Páro no desejo
Que o teu beijo me encontre
E não quero acordar."
- Jorge Cruz

sábado, julho 10, 2010

"I can't compete with history
We'll film it live but dub our tale
The mystery must stay inside
Look at our homes, look at our lives
In control of the morning
In control of the sea

You are creating all the bubbles at night
I'm chasing round trying to pop them all the time
We don't need to trust a single word they say
You are creating all the bubbles at play"

- Biffy Clyro

sexta-feira, julho 09, 2010

El Patón

eu tinha uma ideia do que a casa gastava, mas o que vi superou as expectativas. se não é um dos maiores animais de palco de sempre não sei o que é. a correr dum lado para o outro, a curtir a música ao mesmo tempo que intercalava os seus famosos berros com uns melódicos de se lhe tirar o chapéu. foi pelo meio do corredor de grades que separava as duas partes do público até subir acima do nível público para terminar uma balada "para os amantes"; aproveitou para começar a música seguinte em crowd surf. bónus: fartou-se de falar português. pôs o público a cantar "porra, caralho" porque ele experimentou as palavras entre uns versos e soou bem, gozou com o baterista a dizer que ele era uma merda e ainda foi a tempo de chamar palhaço ao cristiano ronaldo. e é inesquecível ouvi-lo cantar a "evidence" traduzida em português, em que o refrão saiu qualquer coisa como:

"Eu não senti nada
Não teve significado algum
Olhos nos olhos e declara
Não senti nada"

quarta-feira, julho 07, 2010

O Assobio (Canção do Avô)

bota essa psicadélia no retroprojector das blusas.
o teatro é feito, bem sabemos, a par e passo e passo e passo, e assim somos felizes.
a ninguém devemos palavras bonitas ou simpatias. se é para ser é para ser.
as cortinas, quando se abrirem, abrir-se-ão na fachada do quarteirão inteiro.
vais ver-nos dançar, ser felizes, sem uma ponta de vocês ou de arrependimento.
chuchai no dedo, ámen.

sábado, julho 03, 2010

o caminho está livre, moço. finalmente aquela pedra rebolou além da berma, como o Eanes passou além da dor. os obstáculos mais pequenos vão saltando ante o fulgor dos teus pés. por isso corre, moço. corre, o dia está aberto, a noite fechada para obras. e mesmo a noite podes invadir se o entenderes. e deixa quem não te entende lá longe, a virar a cara para não ver.

quinta-feira, julho 01, 2010

post scriptum

falamos bem, sabes? eu cá gostava de te ler. mas no chão já nem se anda: só tropeções e repelões de cartas. é rais parta. tive de as enlaçar, com cordel daquele com que se ata coisas á quantidade de resmas porque o tempo delas passou e o melhor é esquecê-las debaixo da cama. como se faz com os monstros e os brinquedos velhos. fiz uso do liricismo possível para te responder, finalmente responder-te. e essa carta, eu guardo à cabeceira.