terça-feira, dezembro 27, 2011

segunda-feira, dezembro 19, 2011

Skinny Love



"I told you to be patient
I told you to be fine
I told you to be balanced
I told you to be kind
In the morning I'll be with you
But it will be a different "kind"
I'll be holding all the tickets
And you'll be owning all the fines

Come on skinny love what happened here
Suckle on the hope in lite brassiere
My, my, my, my, my, my, my, my
Sullen load is full; so slow on the split."

sexta-feira, dezembro 16, 2011

Submundo Perdido

Foi com muita pena que descobri que a Lost Underground, loja de música punk, hardcore, metal, alternativa, na Rua do Almada, Porto, vai fechar as portas a partir de hoje. É de ironia agridoce, que num período de tanto rebuliço cultural no Porto, de tanta gente a percorrer a Baixa, até à bem pouco tempo com certidão de óbito e a caminho da morgue, termos de ver a fechar um espaço que sempre pugnou pela excelência por oferecer, com qualidade, simpatia e afinco, aquilo que mais ninguém oferecia. A baixar os braços, a fartar-se de correr por amor à camisola enquanto as sente a doer no corpo. Mas não há super-heróis. Ninguém vigiou o vigilante. Ninguém quis saber. A Fnac e restantes sítios fency continuam no mesmo sítio.
O DIY e o punk sofrem mais um rude golpe. E o Porto fica mais pobre.

Watch Me Rise


""goddamn", he said, "i promised myself
i'd never feel this fucking way
again, this world has got me praying on my knees
for one peaceful thought

in my mind,
my stride,
my life,
my time
is consumed with a thousand thoughts

flying free like a flock of birds
with no direction or intention of finding home

it's so hard to think,
it's so hard to change
when this world doesn't see you any other way

in this world, they choose to see me,
they choose to see me
like a setting sun

so it's up to me,
i have to see me,
i have to see me
like the rising one

in my days somebody told me that the rain would always come,
always come to wash away the pain
but nothing changes and this world still wants me down,
wants me down on my knees praying in that rain

"born this way, die this way"

i'd rather die on my feet
than live on my knees
i'd rather die on my feet
so you can watch me,
you can watch me

WATCH ME RISE
with the things we carry

the loss,
the scars,
the weight of heavy hearts

so i say to the slaves of depression
CARRY ON
and sing the sweet redeeming song
about living this life free and long

watch me, watch me,
WATCH ME RISE
for miles and miles"

quinta-feira, dezembro 15, 2011

psicadélicopatia: lida & escrita



A 11/11/11 saiu um dos melhores álbuns deste ano. Ácidos, psicadelismo, terror série b, rock n' roll e um vocalista com mega mustache. Só uma nota de lamento para o facto do lobo não vir ao "inferno". Parece que terá de ser o "inferno" a encontrar o lobo algures nessa europa, que pelos vistos anda a fazer tour com cavalos esquartejadores.

segunda-feira, dezembro 12, 2011



"No more stalling, no delay;
You must call it out by light of day.
So heads or tails?
There's nothing for it so put an end to your sidestepping.
Is it heads or tails? You can't ignore it;
You stand to win or lose everything."

segunda-feira, dezembro 05, 2011

o precipício.

Ela pensava nele a toda a hora. Por muito incompreensível que fosse. Ela era assim: uma máquina de paixões e exímia na nobre arte de as expor. Ou antes, de as berrar. Descobrira havia uns anos que berrar era uma forma de passar pontos de vista aos fracos de espírito que a discussão ou o debate dificilmente superavam. E o que alguns fracos de espírito em particular, ainda percebiam menos era como é que essa forma apaixonada e desassombrada de ter pé na existência humana era passível de coabitar com o mais belo pôr-do-sol observado da mais bela falésia, ou de conviver entre raparigas lindas de morrer e brutamontes implacáveis e dedicados, ou mesmo com lágrimas, genuínas, de comoção. Ela percebeu que pensaria nele a toda a hora, e pensaria nele assim para todo o sempre, desde o dia em que fora arrastada por amigas para um concerto dele. Uma das amigas conhecia o vocalista que passava os fins-de-semana com os pais numa casa perto da sua, na cidade delas, e passava o resto da semana lá longe, com o resto da banda. Uns durões, uns engatatões, e uma merda de banda. Mas eles esfolavam-se por uns saltos do público. Eles berravam cada palavrão como se fosse um ámen e cada concerto fosse a missa do galo. A amiga não desistiria enquanto não fizesse a sua jogada; ela foi atirada aos leões que batiam no coração dele, que era o baterista. Provavelmente, à data seria o mais dotado musicalmente, e sem dúvida, em palco, o mais explosivo. Igualmente o mais calado. Ela perguntou-lhe pela tatuagem embrionária do braço dele; ele respondeu-lhe que ele próprio a desenhara e que demoraria a completar, muitos anos, até percorrer o braço todo, como o sangue das veias, que correm uma vida inteira. Ao canto, a amiga e o vocalista comiam-se, junto ao palco ela decidia fazer uma tatuagem e os dois apaixonavam-se. Ele ensinara-lhe tudo o que ela sabia, como ele próprio aprendera, na base do instinto, da força de vontade, à excepção do amor, que a ele faltara e a ela agora sobrava. Corriam, como dois cães, meio país para ver concertos, encontrar-se, amar-se às escondidas nos jardins de terreolas sem nome, onde houvesse uma música, uma festa, um tatuador que lhes desenhasse o destino, ou uma farra que os fizesse esquecer que no amanhã cresceriam. Ela não percebeu ao certo como desembocou no dia em que se apercebeu que crescera, mas o dia marcou-se-lhe a fogo na mente. E no pulso. Enrolando o Jack de um microfone nas rosas tatuadas que se enrolavam no seu pulso, decidiu que faria ela também uma banda. Teria já dois ou três anos de namoro? Parecia já ter envelhecido até ás portas da morte do lado dele, renascido e ainda ter chegado a tempo de se apaixonar outra vez. Ela era indubitavelmente outra. A faculdade já a conhecera, e já se convencera que a teria de esquecer pois ela tinha esse magnífico dom de falar como se mordesse, quando a mordiam sem ninguém ver. Logo não se compadecia. Percebeu o quão berrar podia ser inútil num mundo civilizado e calculou a melhor forma de se afastar dele, sem que deixasse de poder aproveitar-se das suas vantagens. Hipocrisia com hipocrisia se paga. Fartara-se das epifanias de maturidade do grosso das suas amigas e conhecidas, das desistências de inúmeros fracos de espírito, e lamentava a partida de guerreiros de coração de ouro a quem a vida vergou antes das derrotas. Ele continuara por perto, sempre a ampará-la no seio da sua mente, e ela não o esquecia. Ainda que ele estivesse no outro lado do mundo, aparentemente irreconhecível para o jovem baterista que ela conhecera em tempos e a fizera ter vontade de partir este mundo e o outro em dois, em quatro, em vinte mil pedaços. Aparentemente porque a sua aparência se tornara um meio de fidelizar o exterior da sua podre condição de ser humano ao fogo que lhe ardia nas vísceras e que água alguma abafava. Ela era mais modesta, mais prática, mais incisiva, eventualmente, impiedosa. E ele agora estava longe, nunca do seu coração, e ela queria uma banda. Ao passo que ele já deixara a sua, porque a sua música não era suficiente para pôr cá fora o que vivia por dentro. No fundo, sabiam que esse sonho teria de acabar porque tanto sentimento precisava de um vaso onde depositar as sementes e aquela banda era arremessá-las contra o vento. Não foi surpresa para ela que ele tivesse deixado esse sonho; nem que para ele tivesse sido um desgosto de uma vida, que não assumiu, ela, porém, não deu conta de uma nota de crescimento, naquela decisão. Apenas na sua própria decisão, de fazer verter o líquido vivo da sua própria essência em canções de guerra. Não mendigou a ninguém: logo só lhe restaram duros juntos de si. Como os fiéis pajens de uma linda princesa de tatuagens nos braços, calças esfarrapadas e com uma voz capaz de esmurrar qualquer arruaceiro. Todos eles, menos ela, já sabiam ao que iam. Chegou-se a pensar que a exposição constante ao fracasso a iria massacrar, mas ela levantava-se sempre uma e outra vez. Sabia de que massa era feita a carne dos guerreiros, até sorria só de pensar que a sua podia não ser desse género. Pensava nele, como pensava a toda a hora, e erguia a voz às guitarras, e aos baixos e às baterias da sua pequena irmandade até a garagem ameaçar sucumbir de pequenez. Entretanto ele não voltava. Nem comunicava se voltava. E às tantas voltou e ela não soube. Os meses passaram-se, e a chuva já lavava a calçada com as suas lágrimas. Essas dores de crescimento ela sentiu bem, como não sentira as espinhas secar, os ossos a subir, ou as formas de mulher a desenhar-se. Só mesmo o sufoco do seu coração a bater pequenino, e cada vez mais pequenino. Nas horas em que parecia perder o controlo e se enviava país fora em busca de rastos e restos dele por esse mundo que ele não entendia e que ela aceitava na medida que os unia, mas sem sucesso. Era pior do que se ele tivesse morrido. Pegar no microfone era uma tortura maior do que carregar uma cruz, ou suportar as próprias contas com os próprios rendimentos, que com os próprios pés eram levados a uma repartição de finanças para serem devidamente tributados, sob o olhar pouco auspicioso da desconfiança alheia por uma rapariga tão bonita a viver sozinha, com os demónios que marcara na pele e que a haviam abandonado para sempre. De tanto segurar aquele microfone, as marcas do cabo cicatrizariam no seu braço. Os colegas já só lhe reconheciam a voz pelas letras em inglês, porque de resto ela não a partilhava com mais ninguém. Depois do êxtase de ter a própria alma a comandar os seus actos, ela atravessava a fase mais dramática do crescimento: a perda. A maior de todas. A pior de todas. Que por ser tão dura e tão inultrapassável, não permitia que ela deixasse de crescer. Que ela ficasse ali para sempre, que ela suprisse a sua falta, que ela aprendesse com essa falta. Tudo o que ela podia ter era ele, só ele poderia lá estar, e mesmo não estando ela era capaz de jurar que fazia pela sua cabeça o percurso diário dele, em cada pormenor, sobreposto ao seu próprio percurso que se desmazelava e deteriorava com um esfarelamento de areia molhada, descambado por uma criança maldosa. A única excepção, era a voz. E as palavras que ela trazia nas pontas dos dedos, sussurradas por estas para as folhas de papel, que ela, a final, com uma visão de profeta contestatária erguia lá ao alto, contra a luz da garagem, declamando-a à fúria de todos os átomos da Terra que a quisessem ouvir. Às tantas, chegou o primeiro concerto. Tivera de atar ligaduras aos pulsos. De massajar os ombros. Beber muita água. Desejavam-lhe sorte, mas ela preferia que lhe desejassem paz. De sorte precisava quem não trabalhava, e esse não era o seu mal, nem dos seus. Tinham trabalhado muito no duro. E não lhe fazia diferença que fossem dos primeiros a actuar, ou não pesasse tão pouco o seu nome na hora de estipular o cachet. Porém, movidos pela curiosidade que a voz de uma rapariga que desabridamente amassava carros, rachava passeios e estalava os prédios velhos das redondezas da sua sala de ensaios, alguns desconhecidos juntavam-se nas filas da frente para assistir ao fenómeno; alguns sabiam até os refrões de trás para a frente. Os seus colegas de banda estavam ansiosíssimos por libertar a fera do fruto do seu trabalho, mas temiam pela imprevisibilidade da outra fera, a que ditava o seu comando e que, não sendo instável, era imprevisível. Pois, o problema é que ela queria mais que eles se fossem foder todos. Não teria problema nenhum em deixar isso bem claro. E quando subiram ao palco, era isso que ela queria. Sempre com ele na cabeça, no coração e na pele, ela queria que eles se fodessem todos. Todos eles que tinham viajado de tão longe para a ver. Que fossem para a puta que os pariu, os que se atropelavam em cima do palco e como irmãos e irmãs a abraçavam como nunca nenhuma família de sangue o fizera, e que estariam tão presentes dali em diante no resto do caminho como ele, que desaparecera, não estaria nunca mais. Pela primeira vez nesta história ela chorou de felicidade. Uma lágrima marota, camuflada pelo seu sarcasmo autoritário. Faltava uma música, e ela então viu. Viu-o a ele. No único sítio, se houvesse um sítio ali para ele, onde ele poderia estar. Como estava. A vê-la. Sorridente. Como ela. Mais velha e crescida, mulher que pegara em armas, como ele homem feito, desfeito e reconstruído, abatido pelos sonhos, náufrago da ilusão que regressara para um amor que já se perdera. E ambos o sabiam. Mesmo quando se sorriram como se o mundo tivesse pedido aquele desfecho para morrer em paz. Mas não: faltava-lhes uma música. Ele chegou-se à frente de punhos cerrados. Ela enrolava o cabo nas mãos enquanto o baterista dava a contagem nas baquetas. Começava a música, e ele trepava, duma assentada, joelhos, cotovelos e cabeças até chegar ao palco. Ela, do alto dele, para ele que se erguera até si, berrava o fim do mundo que lhe dissera dentro da sua cabeça, quando ele estava tão longe quanto o fim do mundo podia estar. E cara a cara, por instantes, quando a voz dela rasgou a sala de concertos, com a calculada paragem dos instrumentos, ela e ele, cara com cara, quase em câmara lenta, disseram sílaba por sílaba, de curtas e grossas palavras, o quanto o amor era uma merda. Ele caiu no caos que ela inaugurou. E nenhum dos dois voltou a deixar o sorriso da cara que essa noite lhes deu. Sem se esquecerem, sem esquecer que se haviam amado, sem medo do passado, e dali em diante, sem medo do futuro.