terça-feira, agosto 05, 2025

o bicho

 


o duro. o bravo. o único.
o penta. o cabeceador de olhos azuis.
o praxante. o carregador de piano
fazedor do trabalho sujo.
o que voltava sempre.
o menino das antas.
o senhor de sevilha, gelsenkirchen e tóquio.
o capitão dragão.
o meu homónimo.

deixaste-nos muitas lágrimas nos olhos à custa de tantas vitórias, bicho. deixaste-nos água na boca por aquelas que estavam por vir.
que notícia triste, bicho. e ao mesmo tempo, que bonito ter-te tido no final na casa que foi sempre tua.




sexta-feira, julho 25, 2025

defeitos especiais


menina bonita não paga também não vê menina bonita. não paga com moedinha, paga com menina bonita. não paga então não anda, que quem não anda também não existe. é ver para ser.

quarta-feira, julho 23, 2025

um príncipe entre trevas


"You're searching for your mind don't know where to start
Can't find the key to fit the lock on your heart
You think you know but you are never quite sure
Your soul is ill but you will not find a cure yeah

Your world was made for you by someone above
But you chose evil ways instead of love
You made me master of the world where you exist
The soul I took from you was not even missed yeah

Lord of this world
Evil possessor
Lord of this world
He's your confessor now

You think you're innocent you've nothing to fear
You don't know me you say, but isn't it clear?
You turn to me in all your worldly greed and pride
But will you turn to me when it's your turn to die, yeah"

For Ozzy

segunda-feira, julho 14, 2025

é normal


porque haveria o poeta de ser obrigado a pensar fora da caixa?
em primeiro lugar, apure-se quem o meteu na caixa.

*

casa viva é casa com crianças
ocupada com brinquedos desarrumados
pela especulação do imaginário
um espectáculo para os juvenis passados.

*

abram a janela. circulem o ar.
há já muito que nesta latrina o ar
se tornou irrespirável.

quarta-feira, julho 09, 2025

o país possível


 

"Vê se o tapete de Arraiolos
Não diz “Made in Paquistão”
Se é pechisbeque ou filigrana
O teu pátrio coração

A nacionalidade
Que não sirva de desculpa
Não faz de ti quem tu és
Se nem mesmo Afonso Henriques
Era puro português"

segunda-feira, junho 30, 2025

o dia de todos os santos

O enraizamento da devoção aos santos na fé cristã faz esquecer, ainda que por descuido, que aqueles foram homens e mulheres como nós, em tempos. Raras vezes a santidade lhes foi atribuída à nascença. Muitas vezes conquistada através da morte. E, quase sempre, reconhecida depois dela. Mas como nós, e como Cristo, nasceram, cresceram e morreram.

Se formos justos, aqueles que reconhecemos como santos, apesar de humanos, foram menos que pessoas. O que se compreende. Se assim não fosse, a sua fé e integridade física não teriam sido testadas e sobrecarregadas até á sua sagração como mártires, e à recompensa divina de conviver com o próprio Senhor. Por comparação, aqueles que aproveitaram a plenitude do seu tempo na terra, a ela regressaram de forma mais definitiva.

Já os santos, acometidos de intervenção divina, prometeram-se a um lugar nos céus, ainda em terra. O seu cálculo, porém, foi pouco esclarecido, visto que os céus pertenciam a um só Senhor, ao qual pecadores, como eles nunca se equiparariam. Subidos ao Éden, imediatamente, aceitaram as consequências da sua falta de previdência, e se remeteram aos lugares secundários do eternidade, bem assim, como no culto.  

Ainda assim, a todos os seres celestes e divinos a sua presença era inusitada, à falta de melhor expressão, e difícil de explicar. No entanto, a tal desígnio os haviam devotado os costumes dos homens, com o beneplático divino do Todo Poderoso, e já não era coisa pouca.

Impedidos de se sentar à direita ou à esquerda do Pai, acederam em se sentar atrás dele, do Filho e do Espírito Santo. Assim, se multiplicaram num vasto auditório durante a evangalização da fé e o decorrer dos milénios. Nunca precisaram de se organizarem ou sindicalizarem. Para hierarquias bastavam os anjos, já para providenciar pelas preocupações terrenas estava lá a Mãe de Deus. Quando entendiam dever exprimir alguma ideia, faziam-no através da voz de São Pedro, o primeiro dentre eles. Mais por educação do que por imperativo das suas funções. Afinal de contas, Deus conhecia todos os seus pensamentos, pelo que a liberdade de expressão era uma formalidade.

Porém (e porque há sempre uma adversativa nas grandes histórias ou nas grandes reflexões), Deus permitiu-se a que os seus desígnios fossem progressivamente mais insondáveis, à medida que a sua doutrina alastrou pelo mundo. De tal modo que a sua localização, se tornou ela própria insondável. Ao mesmo tempo que os filósofos terrenos se insurgiam contra a ditadura dogmática do pensamento divino, proclamando a morte Dele, e os seres humanos o substituíam nos seus pensamentos por bens materiais, Deus, efectivamente, desapareceu de cena. Assim na erra, como no Céu. E com Ele, todos os anjos, arcanjos, a Virgem, e claro, logicamente, o Filho e o Espírito Santo.

Foi, portanto, uma santa assembleia muito confusa aquela que se deu conta da ausência de Deus, quando mais necessitavam do seu conselho. E assustada ao constatar que repousava sobre os seus martirizados ombros, a responsabilidade de gerir os destinos do reino dos Céus, sem qualquer legitimidade, hereditária ou democrática. É que na Terra, os homens haviam-se voltado a matar uns aos outros, e enquanto o faziam, rezavam a alguém que não acreditava que os ouvisse. Apenas os santos tinham ficado para responder à chamada.