quarta-feira, abril 30, 2008

O PROCESSO

Estamos exactamente a meio da aula e, a minha mão direita crava-se em murro na minha cara. Talvez o queixo escancarado e dormente a irrite. Com os olhos semi-cerrados iria lindamente um fiozinho de saliva que não chega e, de certo não chegará por uma questão de respeito. Mas o quadro em si é indubitavelmente deprimente. O re-cambiamento para uma pré-primária seria uma medida mais acertada.
O quadro em que se enquadra a situação nem é por aí fora relevante à continuação desta história. De momento apenas interesso eu ali no centro da esfera da minha própria decadência física e, apenas me interessa a sucessiva dormência com que bombardeio os meus músculos e as minhas veias e o meu cérebro. O objectivo é claro, impossibilitar de todo, a verbalização das frases que caem que nem petardos hooligans no seio dos meus neurónios.
Em semelhante processo, pretendo inclusive, eliminar a própria emissão de pareceres e tiradas, ainda que condenadas, de momento, a morrer dentro de mim. Pois senão, o que aconteceria se a verdade viesse ao de cima? Se o que há para dizer fosse dito? Se os pontos fossem irremediavelmente postos nos 'is'?
Se eu em verdade a confrontasse comigo?
Eu sei, que concretizando estas questões, eu acabaria a dizer o oposto do que penso, pois dizendo o que penso não me acreditariam. Ela não me acreditaria. Dizendo o que não penso, ela limita-se então a desacreditar-me. É uma faca de dois excessivos legumes.
Prefiro portanto deixar ao abandono todo o processo, aniquilá-lo lentamente enquanto se esperneia ao propagar-se; abafá-lo silenciosamente por entre a flacidez da carne do meu corpo.

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