domingo, fevereiro 15, 2009

a evolução das espécies

O cineteatro de Penafiel não existe já vai para uma série de anos. Quantos, não sei ao certo. Nunca me tinha dado ao trabalho de pensar no assunto a sério até à coisa de dias. E no lugar da resignação de quem vê chegar novos tempos e novos prédios a matos e campos com naturalidade surgiu a fria constatação: o cineteatro de Penafiel não existe. Pior: ninguém quis saber. Sei que era bastante mais novo quando o demoliram, mas que ainda assim me custou vê-lo desaparece. Agora batem-me remorsos duros no peito por nunca ter pensado a situação ou falado dela com ninguém. Para mim pouco mais foi que o espaço onde fiz dois ou três teatros de infantário. Para os meus pais, tios e toda a gente da sua geração era o derradeiro entretenimento. De filmes indianos às cowboiadas. Numa cidade limítrofe, rodeada de campos e vales, era um achado: 'não havia mais nada!' como me costumam dizer os mais velhos. Até o meu avô materno lá passava horas, durante o seu turno da GNR, desprezando porém quando tinha de levar com 'filmes de macacos'.
Que disseram as pessoas dessa geração quando demoliram sem mais uma parte do passado delas? Nada, ao que sei. Que dizem elas se eu lhes perguntar? 'Estava velho'.
Desde então até à pouco tempo, serviu de parque de estacionamento (uns 30 carros ou mais! na loucura). Agora está vedado: dará em breve lugar a um prédio com lojas: a nova jóia da coroa do comércio penafidelense.
Pondo já de parte a Câmara, que devia ter zelado pelo património e não o fez, como nem o quis reaproveitar, dá-me a volta às entranhas, que as únicas alterações urbanísticas que ponham os penafidelenses a contestar sejam aquelas que lhes tiram estacionamento gratuito no centro da cidade, deixando tudo o resto ao sabor de uma filosofia de 'está velho: manda abaixo e faz um novo.'

3 comentários:

Anônimo disse...

posso demolir-te quando disseres que te ponho velho?

Anônimo disse...

Rio Tinto também tinha um lindo cinema, com uma fachada incrível, cheio de história, e que demoliram para construir um prédio amarelo e feio.
Também eu era muito jovem e a justificação, pelo que me lembro, também foi "estava velho".
Isto já é tão feio...mas conseguem sempre piorar um bocadinho mais.

Ary disse...

Acho que felizmente a actual geração preza um pouco mais o património. Resta-nos a esperança que cuide melhor dele.