terça-feira, setembro 07, 2010

Notas

Nota 1 - Ontem à noite, embalado, entre outros, pela televisão que transmitia uma reportagem sobre a vida do malogrado magnata Lúcio Thomé Feteira, fui desperto pela mesma quando ouvi um senhor referir-se a Feteira como um homem "afecto ao regime", isto é à Velha Senhora. A ironia deliciou-me. Para começar, a reportagem decorria em Vieira de Leiria, terra natal do hombre, onde não lhe pouparam elogios (não menos irónico, que numa anterior reportagem sobre a vida de Lúcio Thomé Feteira na Visão um popular tenha desabafado que Vieira de Leirira tinha vendido a alma aos Feteira), haver uma descontraída afirmação de que o Mister Cofina era um homem que se mexia como peixe na água dos tubarões do regime. Aliás, já são do conhecimento público as declarações de Feteira, poucos anos antes de morrer, nas quais considerava Salazar como o maior estadista português. No entanto, a reportagem de ontem, chamava e bem a atenção para o patrocínio que Feteira dava aos opositores moderados do regime (eu li que chegou a custear a fuga de Mário Soares, entre outros, mas não entremos por aí). Uma curiosa afirmação, que se atribui a Salazar é expressiva: "eu admiro tanto este homem, e ele não gosta nada de mim", ou algo do género. E o sumo está aqui: Feteira era afecto ao regime, tinha afectos com o regime, quase de certeza amava o regime, e por isso apoiava-o, financiava-o, deixava o regime fazer o que lhe desse na telha; quando o regime mexia no que não devia, ou então para refrear as rédeas do cavalo e salvaguardar a própria posição de intocabilidade, Feteira lá ia sendo afecto à oposição, apoiando-a, financiando-a, deixando-a fazer o que lhe desse na telha. Porque, como homem poderoso e imprescindível que era, não se podia dar ao luxo de ter só um peso e medida, e para quê apostar num cavalo quando se tem dinheiro para apostar em todos? E o regime, engolia, claro, quem é que podia dizer não a uma fortuna daquelas? Tudo isto para dizer que fiquei a pensar, mais uma vez, que são os Feteiras deste mundo que mandam nisto, e cada dia mais e mais.
Nota 2 - Assistiu-se a um movimento interessante nesta legislatura. Além do português de Portugal ter sido oficialmente proscrito (qualquer dia a ASAE fiscaliza-nos a pronúncia), assistimos a uma interessante subversão de nomenclatura. Os hospitais públicos, grosso modo, passaram a ser "centros hospitalares" (a título de exemplo, faço refeência ao da minha terra que passou de Hospital Padre Américo para Centro Hospitalar Tâmega e Sousa), as escolas fecham, e abrem "centros escolares" e não fosse ter-se alargado o período experimental da nova LOFTJ e já só teríamos comarcas (grosso modo também com nomes de rios: Comarca do Baixo Tâmega Sul, a sério, qual o problema desta gente com os rios?), divididos em juízos de tudo e mais alguma coisa, e não em tribunais disto e daquilo. Será que as manias de uns são mesmo o progresso de outros, ou o essencial continua, como penso, por fazer?

Um comentário:

D. disse...

Ora, estou totalmente de acordo com a nota 1. Acho que já somos todos crescidinhos para ver que em Portugal sobem as taínhas que andam sempre com a boquinha de foco em foco.
Quanto à nota 2, creio que será uma estratégia para a canalha aprender de vez o nome e o lugar dos rios. Se é que eles ainda dão essas coisas na escola.