sexta-feira, fevereiro 24, 2012

A Mulher da Loja de Ouro

Fechada entre 4 paredes, ela fazia o ganha pão de muita gente; alapada erguia muitas mais 4 paredes, clones daquela, ao pormenor, em muitos mais lados, com muitas mais como ela, alapadas, prontas a erguer outras tantas 4 paredes, em tantos outros lados. À frente, a mesa, atrás a imagem de nosso senhor jesus dinheiro, um quadro pechisbeque de um euro, como se quem entrasse na merda daquela garagem não soubesse já ao que ia, não soubesse por que ia ou pelo que com que dali queria ir. Estes cabrões gananciosos são todos iguais. Não há doutrinas, nem ensinamentos, nem ideologias, nem mandamentos, nem crenças, nem manias na hora de entrar mais dourado que uma caixa de pescado e sair mais forrado que um casaco de penas. Todos, todos silenciosos e ponderados, calculavam a passos rápidos o que negociar diante dela, rápido, àquela mesa de negócio, pequenina, que mais lhes parecia uma mesa de talho ou de operações, só que enfeitada com uma calculadora ao invés de bisturis ou cutelos. Mas nas mãos dela, aquela calculadora também podia ditar a carnificina. Ou apagar uma. Entre as 4 paredes nunca se ouvia um pio. Nem o capanga que a menos de meio metro da parede atrás dela lhe protegia as costas de qualquer cabrão que se quisesse auto-promover a gringo. Mas tranquilo, até o capanga relaxava, dormia, comia ou pinava, ou o que quer que fosse que fazia lá atrás. A escória queria-a viva, claro, e bem viva, para lhes trocar o ourinho. Depois já se sabia. Chegava as 18h, ela fechava o tasco, fazia de conta que o capanga não existia, ia buscar os putos ao infantário e ia para casa fazer o comer.

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