terça-feira, agosto 21, 2012

Êxodo

As parangonas chocam pela verdade que transmitem: maior êxodo de portugueses desde os anos 60. A tal altura em que uma ditadura amordaçava vozes e com a mesma eficácia tirava o pão das gentes. A História. ensina-nos que nunca aprendemos com a História, vai daí a história repetir-se. E se não nos dividimos como há duzentos anos atrás entre dois lados de barricadas ideológicas em batalhas fraticidas sangrentas, dividimo-nos entre os que partem e os que ficam. Como nesses tais anos 60. Irmãos a querer sair e outros a querer e não poder. Uns contra a vontade a fazer malas e a meter-se nos aviões mais baratos rumo a propostas de emprego. Outros, a agarrar-se com unhas e dentes ás que tiveram porque é "bem bom". No fundo ninguém quer partir, no fundo ninguém quer ficar. Leva-me a pensar se a História não se repetirá em nós daqui a 50 anos, da mesma forma que se repetiu com quem há 50 anos tinha estes dilemas. Os que ficam a esgravatar a melhor forma de sobreviver, a fazer parte de uma nova ordem social (que no que aos cumes e bases diz respeito estará muito provavelmente igual), uma geração falhada porquer teve de abdicar de tudo porque entendeu, finalmente, na pele dramas e sacrifícios de gerações anteriores e por isso quererá dar às gerações vindouras aquilo pelo que as anteriores também batalharam pela sua própria: um futuro, uma saída, bem estar. Os que partem, pensam fazê-lo por pouco tempo, até se ajeitarem, até a tempestade acalmar. Mas isso não é verdade. Nem os verões e natais em que regressarão à "terrinha" vão alterar o facto de que não voltam mais. Quem sabe, darão alegria a festivais e cidades de arredores, da mesma forma que os emigrantes que conhecemos a vida toda dão alegria a arraiais e aldeias sempre que voltam cá para matar saudades, para recordar a juventude imberbe e o tempo irrecuperavelmente perdido que tiveram de passar sem os seus. Nós os que ficamos, os velhos, e eles os que partem, os emigrantes. Nós, os angustiados, a trabalhar num novo Portugal cinzento, eles amargurados de saudades, a fazer visita de médico ano após ano, a tentar trazer de volta algum colorido que lhes ficou da infância. A vida continuando assim-assim, lenta e desinteressante, miúdos a encarnar novamente o ideal do chico-espertismo, nós acostumados e rezingões, os de fora indignados, porque ainda é do seu país que se trata. Um país que é uma bela merda.

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