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quinta-feira, janeiro 29, 2015

o regresso nunca foi possível


"So let's face it this was never what you wanted
But I know it's fun to pretend
Now blank stares and empty threats
Are all I have, they're all I have.

So drown me and if you can
Or we could just have conversation.
And I fall, I fall, I falter
But I'll find you before I drift away"

"o regresso nunca foi possível.
      o verdadeiro fugitivo não regressa, não sabe regressar.
reduz os continentes a distâncias mentais.
aprende a fala dos outros - e, por cima dele, as constelações vão esboçando o tormentoso destino dos homens.
      pressinto uma sombra a envolver-me. ouço músicas...espirais de som subindo aos subúrbios da alma.
      e acendo o lume das pirâmides, onde o tempo não foi inventado, e renego a alegria.
      não semearei o meu desgosto, por onde passar.
      nem as minhas traições."

- Al Berto, in "Horto de Incêncio"

segunda-feira, maio 05, 2014

"mas gosto da noite e do riso de cinzas. gosto do
deserto, e do acaso da vida. gosto dos enganos, da sorte e
dos encontros inesperados.
pernoito quase sempre no lado sagrado do meu coração, 
ou onde o medo tem a precaridade doutro corpo.


a dor de todas as ruas vazias."

- Al Berto

quarta-feira, abril 30, 2014

todos os olhos postos no lume

Incêndio

Se conseguires entrar em casa e
alguém estiver em fogo na tua cama
e a sombra duma cidade surgir na cera do soalho
e do tecto cair uma chuva brilhante
contínua e miudinha - não te assustes

são os teus antepassados que por um momento
se levantam da inércia dos séculos e vêm visitar-te

diz-lhes que vives junto ao mar onde
zarpam navios carregados com medos
do fim do mundo - diz-lhes que se consumiu
a morada de uma vida inteira e pede-lhes
para murmurarem uma última canção para os olhos
e adormece sem lágrimas - com eles no chão

- Al Berto, in "Horto de Incêndio"



"Speak louder / Godfather / You want what's mine / So show your face
Strike harder / You know what's mine / You want what's mine / I saw you
Cat burglar / So come inside / And show your face / To me"

quarta-feira, abril 09, 2014

recados modernos de um auto-didacta

Recado

ouve-me
que o dia te seja limpo e
a cada esquina de luz possas recolher
alimento suficiente para a tua morte

vai até onde ninguém te possa falar
ou reconhecer - vai por esse campo
de crateras extintas - vai por essa porta
de água tão vasta quanto a noite

deixa a árvore das cassiopeias cobrir-te
e as loucas aveias que o ácido enferrujou
erguerem-se na vertigem do voo - deixa
que o outono traga os pássaros e as abelhas
para pernoitarem na doçura
do teu breve coração - ouve-me

que o dia te seja limpo
e para lá da pele constrói o arco de sal
a morada eterna - o mar por onde fugirá
o etéreo visitante desta noite

não esqueças o navio carregado de lumes
de desejos em poeira -- não esqueças o ouro
o marfim - os sessenta comprimidos letais
ao pequeno-almoço


- Al Berto, in "Horto de Incêndio"





A desumanidade
envelhece
a humanidade poupada.

A tua casa afoga-se,
auto-didacta,
aprendeste a nadar para nada.