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terça-feira, julho 19, 2016

A Lenda


"Eu podia ter sido um homem que partiu para sempre. Tinha-se cansado e agora, lentamente, começava a acordar para a imensidão do que abandonara.
As escuras paixões das marés, o mugido de uma onda, a avalanche das vagas quebrando-se contra um recife... uma glória desconhecida chamando-o incessantemente da negrura do alto mar, era a glória confundindo-se na morte e numa mulher, a glória de fazer do seu destino uma coisa especial, uma coisa rara. Aos vinte anos tinha estado apaixonadamente certo: nas profundezas do mundo havia um ponto de luz que fora feito só para si e que havia de se aproximar de si para iluminar, e a mais ninguém."

Yukio Mishima, "O Marinheiro Que Perdeu As Graças Do Mar"

segunda-feira, julho 04, 2016


"Os fantasmas do mar, dos navios e das viagens oceânicas existiam apenas nessa gota verde brilhante. Mas por cada dia que passava, mais os odores abomináveis da vida em terra se colavam ao marinheiro: o cheiro da família, o cheiro dos vizinhos, o cheiro da paz, do peixe frito, das piadas e das mobílias sempre imóveis, o cheiro dos livros de contas, da casa e dos passeios de fim-de-semana... todos os cheiros pútridos que os homens da terra deitam, o fedor da morte."

Yukio Mishima, "O Marinheiro Que Perdeu as Graças do Mar"

sexta-feira, junho 17, 2016

queres escrever poemas? mas poemas não se escrevem sem coragem


"Que estou a fazer aqui numa tarde de verão? Quem sou eu, aqui sentado, com sono junto ao filho da mulher que tive ontem à noite?"

Yukio Mishima, "O Marinheiro Que Perdeu as Graças do Mar"

terça-feira, junho 07, 2016

não é meia noite quem quer

"Com aquele olhar pensativo prometia observações profundas ou mesmo uma declaração apaixonada, mas em vez disso tinha iniciado um monólogo sobre folhas verdes entrevistas pela porta da cozinha de bordo e balbuciava uma história da sua vida sem interesse nenhum, que desembocava num refrão horroroso duma canção popular! Contudo, aliviava-a saber que que ele não era um sonhador, dava-lhe confiança aquela simplicidade, uma qualidade sólida, de móvel pesado e antigo."

Yukio Mishima, "O Marinheiro Que Perdeu As Graças do Mar"

domingo, maio 08, 2016

peregrinos marinhos



"Ela rodou levemente a cabeça e o seu cabelo roçou o nariz dele. Como sempre Ryuji tinha a sensação de ter atravessado uma distância enorme, e algumas vezes fizera-o desde o outro lado da terra, para chegar finalmente a um ponto privilegiado onde as sensações eram extremamente delicadas - uma comoção na ponta dos dedos, numa manhã de verão, a uma janela."

Yukio Mishima, "O Marinheiro Que Perdeu As Graças Do Mar"