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quarta-feira, dezembro 07, 2016

10 anos de guarda-chuva em punho, no fim de todas as coisas

Este espaço é importante para mim.
É a razão pela qual escrevo este post, no dia de hoje, e pela qual escrevo muitos outros sem razão ou motivação nenhumas. A ânsia literária e a comoção emocional podem não ser as mesmas que noutros tempos (ou décadas?) mas ainda dá sinais de vida: a música continua a acompanhar-me, ininterruptamente; a vontade de contar histórias, sem princípio, meio ou fim, dá-me umas pontadas no peito de quando em vez, e desabafo com a mesma voracidade ou nostalgia quando o drama assim o exige.
Passaram-se dez anos desde que um episódio particularmente infeliz numa noitada de copos na faculdade me fez repensar uma série de aspectos da minha vida. Dei por mim a tentar amadurecer comportamentos, pensamentos e atitudes. Na sequência disto, cortei laços com um blog um tanto ou quanto emo que escrevia na altura e lancei-me a este. Este ia ter a liberdade total como medida. Seria igualmente legítimo como portal de crítica artística, de filosofias de café, de ficção, de viagens, de notícias, de poesia, de odes aos que nos deixam, de tudo o que eu fosse e vivesse, em cada momento.
Claro: um blog feito diário dependerá sempre da pessoa que nele escreve, chame-se umbrellameansfreedom.com ou José António, e a mudança podia ser meramente estética. Mas não considero errado criarmos mecanismos para nos disciplinarmo a ser mais criativos, autênticos, e  se não for pedir muito, mais maduros. Este blog ajudou-me a isso (mesmo quando, muito concretamente, não ajudou). E tudo começou pela escolha do link: um guarda-chuva, que no meio da tempestade, me desse liberdade de ir para onde eu bem entendesse.
10 anos após, este espaço continua importante para mim, porque ter essa liberdade é, de facto, muito importante para mim.
Aos que desse lado, ao longo dos anos, resistiram e insistiram em ler-me, conhecidos e desconhecidos,  um muito obrigado. Sem leitores qualquer texto é um monólogo; graças a vocês, os meus puderam ser um diálogo.

terça-feira, outubro 21, 2014

O Guarda-chuva (Agora) Significa (Mesmo) Liberdade




Em 2006, iniciei este blog com um propósito libertador: de convenções, de medos, de sofrimentos. Quis ter um espaço onde, com a mesma naturalidade, que as minhas emoções fossem o peso e a medida, as minhas opiniões fossem ponderadas e certeiras, e um diário da minha humilde existência pudesse aflorar tranquilo com as suas tendências e idiossincrasias. No fundo, dar largas à crítica e à imaginação sem me sentir culpado ou condicionado.
A metáfora do guarda-chuva para liberdade vinha-me dos tempos de infância e adolescência: em dias de chuva (grandes tempestades), o "chuço" era um livre-trânsito para andar na rua à vontade. Ruas essas desertas, porque só um maluco anda à chuva, mesmo que remotamente abrigado. O guarda-chuva ganhou o estatuto de fiel amigo, com o qual poderias ir e fazer o que em condições normais não podes. Uma espécie de frágil liberdade, que a qualquer momento pode ser varrida do mapa, e requer que sejas tu a segurá-la pela própria mão para ser eficaz.
Em Setembro de 2014, iniciaram-se os protestos em Hong Kong contra a possibilidade de o governo de Pequim predeterminar os candidatos ao governo de Hong Kong, sujeitos a sufrágio, em violação, do estatuto de autonomia da região e das elementares regras de democracia e autodeterminação dos povos. Os protestos, conduzidos em grande parte pelos estudantes de Hong Kong, souberam prevalecer e furar a Grande Muralha de Bloqueio informativo chinesa e chegar ao mundo, que um irredutível movimento resistia hoje e sempre contra o invasor e contra brutais cargas policiais que pretendiam assegurar o normal funcionamento das instituições, indiferentes a trivialidades como a representatividade do seu Executivo. Os protestos de Hong Kong contra uma doutrina de quero-posso-mando-e-calou, que pulula nos mais diversos cantos do mundo não se deixou ficar, nem amedrontar face à diabolização nos seus media, nem com a falta de diálogo da outra parte. Batalharam por princípios, com princípios. Contra os canhões marcharam, não de espingarda, mas de guarda-chuva em punho, constituindo o maior afronta à ditadura chinesa desde Tiananmen.
Se quando rebentaram os protestos a minha solidariedade com este movimento foi imediata, a partir do momento em que descubro que a sua designação mais "oficial" e pela qual, muito provavelmente, ficará conhecida na História, ser "Umbrella Revolution" ou "Umbrella Movement", não podia deixar de fazer esta exortação. Que a voz nunca lhes doa, que a perseverança nunca lhes falhe nos braços e os pingos de chuva ou das lágrimas nunca lhes condicione a liberdade.