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quarta-feira, setembro 25, 2019

ser-não-vivo


"A minha vida acabou quando eu tinha vinte anos. Desde essa altura não tem passado de uma série de reminiscências, um corredor longo e sombrio que não leva a lado algum. Contudo, não tive outro remédio senão continuar a viver, sobrevivendo a cada dia vazio que passava, sabendo que vinha aí mais um dia vazio por preencher. Durante todos esses dias cometi uma quantidade de erros. Não, isso não é correcto - às vezes tenho a impressão de só ter cometido erros. Sentia-me como se estivesse a viver no fundo de um poço fundo, completamente fechada dentro de mim, amaldiçoando o meu destino, detestando tudo à minha volta. De quando em quando, ganhava coragem e atrevia-me a sair de dentro da minha casca, encenando aos olhos dos outros uma existência digna desse nome e celebrando o facto de estar viva. Aceitando o que me aparecia à frente, arrastando-me penosamente, amorfa, pelo mundo, sem sentimentos e fazendo pela vida. Dormi com muitos homens. Cheguei mesmo a viver uma relação que era uma espécie de casamento, mas sem nenhum significado para mim. Acabou tudo num instante, sem nada para contar a não ser as cicatrizes deixadas por tudo o que deitei a perder e desprezei."

Haruki Murakami, "Kafka À Beira-Mar"

quarta-feira, junho 18, 2014

como os cães, eles sentem os medos. mostra-lhes o cenho. arrebenta-os.

 “I was having more and more shows where I was spending time thinking ‘What am I doing here?’ Not in an ‘I’m not enjoying this’ kind of way, but more in a supreme state of self-consciousness. Like, ‘It seems really weird to be on a stage with people staring at me.’ ”
Bryan Herweg



(negar o absoluto. sentir o medo ser sentido. a tornar-se para sempre. no pelicano. pródigo regresso)

terça-feira, outubro 18, 2011

Autmn Into Summer



deixamos o chão, as folhas, o ar serem sugados pela labareda. pela gravidade da situação, deixamos o ouro da nossa vida arder, incinerar, ebulir. deixamos. deixamos de ser gente, por isso fugimos da luta que era fugir. que era avançar na quietude do outono. de descansar os pés e os ombros no regaço de uma qualquer árvore maternal. deixamo-nos. deixamo-nos queimar, aos gritos, na vez do descanso.

terça-feira, março 01, 2011

o motivo não foi divulgado, no entanto o resultado era bem visível. faltavam 3 dentes. sangue nem vê-lo. o choque abalroara o crânio, mas apenas os dentes tinham capotado. os 2 incisivos superiores da frente e o incisivo lateral superior torto da esquerda. a gengiva desse ficara verdadeiramente mal tratada. a indignação amedrontada da privação não era propriamente inesperada: houvera vezes em que ele os sentia abanar. mas era apenas cisma, convencera-se. na tentativa de encontrar explicação, verificou o céu da boca e conferiu os ossos do céu da boca que conduziam aos dentes. e lá estavam, menos os daqueles 3, decapitados das protuberâncias que lhe jaziam nas mãos. guardou os dentes, e expôs a sua preocupação a quem de direito: alguém que não contasse a ninguém aquela queda de dentes. se fossem discretos, ninguém daria por nada.

quarta-feira, janeiro 20, 2010

'Bliss In Concrete'

trágica sinfonia. mega sanfona. pássaros abatidos. sorrisos máscara-de-madeira. farsa máxima. e um coração do tamanho do mundo todo ele feito de pedra.