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terça-feira, junho 14, 2011

há cigarros que gostávamos que nunca terminassem. como se aquele vício fosse uma escapatória, ou até uma cura. julgamos que por aguentar muito tempo sem ele o superamos, e até fazemos orelhas moucas à traça que nos corrói e amolece. mas ele está lá. não importa o quanto nos julguemos melhor do que ele. e quando, por fim, sucumbimos a dar azo ao vício, porque, afinal, até há especialistas que dizem que não são três cigarros por dia que matam uma pessoa, começamos por perceber a inutilidade de lhe dar seguimento: éramos de facto, muito melhores sem esta morte portátil a prestações. só que no fim, com a última passa, chega a verdade. o hálito manhoso. o fumo na traqueia. a dificuldade em respirar. o cancro, por outras palavras. e aí renasce a culpa. e o ódio ao cigarro que não tem culpa nenhuma. e às mãos dilaceradas que o levaram à boca. gostávamos tanto que este cigarro nunca terminasse. para poder guardar para sempre aquele limbo que separa a nossa superação orgulhosa, deste estado vegetativo que não é mais que uma derrota com todas as letras.
e será sempre assim. sempre que puxarmos desse cigarro.

sábado, fevereiro 20, 2010

Pokémon = Monstro de Bolso

Quando ao ser humano não compensam fés grandes, ou grandes fés, isto é, divinas, king sizes, xxls, ele tenta redimir-se de outra forma. Sem pactuar com os planos de Deus, compactua com a sua imensa gama de artigos. Vocaciona a fé, para pequenas 'fés' (espero mesmo que seja assim que se diga, ou os puritanos cascam-me). Fé no café. Que este seja a poção mágica cuja força sobre-humana escapa ao alcance dos incautos mortais. Que dê forças e alente. E todo o trabalho do mundo caberá num trago dessa negra mistela voodoo. Fé no cigarro. Que a pausa metódica a que submete, como se de um vício se tratasse, corresponda em anos humanos, a anos. Que o pedaço de pecado que carrega, passe sempre a razar, ao lado do coração, e a paz a que redirecciona o perdoe. Fé no alcoól, júizo final, no final de todas as coisas. Mão cheia de últimas oportunidades, que quem um haitiano sobre os olhos, tudo apague, e nada faça restar senão um caminho luminoso em frente.
Tudo isto são pequenas crenças. Crendices, que tempos e maturidades farão o favor de erodir, julgam os sensos comuns. Mas não deixam de ser fés. Com rezas próprias. Muitas vezes recitadas de joelhos, em altares invisíveis. Diferenciam-se das restantes, pela sua pequenez. Ou não vivéssemos nós na Era do Portátil.