This is prophylaxis, a practiced absence, a safer distance.
He is a fine clinician to diagnose this, a sound decision.
This is a family practice, it's anesthetic, it's nonreactive.
This is a termination, a fine resemblance, but no relation.
"Para trás ela deixa apenas uma almofada molhada de lágrimas. Com a mão sobre a tepidez da almofada húmida, vês o céu pela janela ficar pouco a pouco mais claro. Ao longe, ouve-se o crocitar de um corvo. A terra continua a mexer-se lentamente. Mas para além desses pormenores do quotidiano, existem os sonhos. E toda a gente vive nos sonhos."
Ela estava sentada quando ele chegou. Escolhera uma esplanada junto ao lago, e as pessoas passeavam, ocasionalmente, no jardim, a aproveitar a brisa fresca de uma tarde de Verão prematura.
Ela vestia de preto, blusa e calças, sem acessórios, nem decote. Destacava-se o lindíssimo rosto, e os inigualáveis olhos azuis. Sóbria, elegante e hipnótica, como sempre.
Falaram sobre arte, viagens e temas triviais. Evitavam o elefante na mesa, contornando as evidências da atracção e da história em comum, que nunca tiveram, irremediavelmente perdida na timidez das suas pobres aptidões sociais da juventude. Não se viam havia anos. Ela partira para o outro lado do mundo, sem promessas e sem vínculos. Aquela terra, que era a sua, dizia-lhe pouco. A promessa de outros horizontes fazia-a mover. Amava pela sua própria cabeça, sem paixão, o que a levava aos destinos e aventuras mais inesperados. Frente a frente com ela, o seu mistério desarmava-o, as suas inescrutáveis motivações envolviam-no, como na primeira vez que se tinham falado a sós.
Levantaram-se para caminhar, e só então ele se apercebeu da sua gravidez avançada. A realidade atordoou-o como um soco no estômago. Não percebia como não se apercebera da diferença física, nem como o tema não surgira na conversa. Vendo-a a caminhar graciosamente junto ao lago esverdeado, não conseguia imaginar uma grávida mais bonita e mais serena.
Ela confirmou o óbvio, com a calma de quem quer algo, e aceita o desafio inerente, e os seus custos. Como se fosse mudar-se para uma novo continente, depois de ter vivido nos outros todos. Ele disse-lhe que não percebia. Ela respondeu que também não. Que não se imaginava mãe, mas que o iria ser. Ele parou diante dela, percebendo que aquele era o ponto final na eterna latência entre os dois e na eterna possibilidade de relação que nunca haviam tido. Perdera-a, e não sabia, sequer, se a voltaria a ver novamente. Perguntou-lhe se o pai da criança era o namorado ou marido. Respondeu que tinha uma relação com um árabe, que era o pai.
Ele segurou-lhe a mão. Não sabia como reagir, disse-lhe. Estava triste como não se lembrava de estar. Ela tocou-lhe no rosto e beijou-o. Os lábios tocaram-se com a firmeza da despedida.
Acordou, com a camisola colada ao corpo, com suor gelado. Fora um sonho. Um inesperado, e imprevisto sonho. Ele, que já não sonhava. Ela continuava do outro lado do mundo, a prosseguir os seus insondáveis desígnios. Ele continuava preso, sem esperança, à terra que o viu nascer, porque não se pode enraizar noutra.
Ao voltar a fechar os olhos, lembrou-se que fora tudo um sonho, menos a distância entre eles, fosse a de uma gravidez, de meio globo, ou do silêncio dos olhos azuis.
"Que sentimento é esse que temos quando vamos de carro e nos afastamos das pessoas e elas vão diminuindo de tamanho na planície até vermos as suas manchas dispersar? É o mundo demasiado grande a pesar-nos, é o adeus. Contudo, curvamo-nos avançando para a próxima aventura debaixo do céu."
Jack Kerouac, "Pela Estrada Fora"
terça-feira, dezembro 29, 2015
"Assim, durante a minha primeira semana em Mill City, fiquei na barraca a escrever, a todo o vapor, um conto tenebroso acerca de Nova Iorque que, achava eu, iria agradar a um realizador de Hollywood, e o defeito que a história tinha era ser demasiado triste. Remi mal conseguia lê-la, de modo que se limitou a levá-la para Hollywood umas semanas depois, Lee Ann andava demasiado chateada e odiava-nos de mais para se dar ao trabalho de a ler. Passei incontáveis horas de chuva a beber café e a escrevinhar. Por fim, disse a Remi que aquilo não servia; queria um emprego; era obrigado a fumar cigarros à custa deles. Uma sombra de desilusão perpassou pelo rosto de Remi; ficava sempre desiludido com as coisas mais estranhas. Tinha um coração de ouro."