em primeiro lugar, apure-se quem o meteu na caixa.
ocupada com brinquedos desarrumados
pela especulação do imaginário
um espectáculo para os juvenis passados.
há já muito que nesta latrina o ar
se tornou irrespirável.
This is prophylaxis, a practiced absence, a safer distance. He is a fine clinician to diagnose this, a sound decision. This is a family practice, it's anesthetic, it's nonreactive. This is a termination, a fine resemblance, but no relation.
I.
Hoje lembrei-me de ti
quando vesti pela primeira vez
a camisola que me ofereceste
antes de nunca mais nos vermos.
Nick Cave estava no Primavera.
Tu não. Tudo bem.
Somos amigos.
II.
Hoje lembrei-me de ti.
Como daquela vez em que te usei
porque sabia que estarias presente.
Eu, nem sempre. Mas, sim, sempre
quando me lembrei de estar.
Esperava que te tivesses esquecido,
quando te falei
"Hoje lembrei-me de ti"
mas a tua resposta foi
Não.
III.
Hoje lembrei-me de ti.
Para lembrares comigo
as noites de Verão
em que falamos embevecidos
de amores afogados em cerveja.
Lembrei-me de ti
como me lembro sempre
daqueles que te traíram.
Eu sei, lembro-me de tudo
de toda a gente,
para sempre.
Somos todos especiais
no Universo.
IV.
Hoje lembrei-me de ti.
Nada te disse.
Sei que perguntas por mim,
sem o saber.
Talvez saibas que faço o mesmo,
mas não sabes.
Eu quero ser feliz.
Tu não sabes o que queres.
Por isso, espero
que estejas bem.
V.
Hoje lembrei-me de ti.
Perguntaste-me se estava
tudo bem.
Respondi que podia estar
melhor eu também.
Estavas sozinho como eu.
Não pediste o meu coração.
Só a resposta
a de estar bem
do lado de cá do ecrã.
Tive saudades tuas.
Desejei-te boa noite.
Dormi bem.
I
a arte ou imita a vida ou não imita merda nenhuma.
já a vida é uma conta de somar
de circunstâncias mais sensibilidade, ou falta dela.
traumas enlegados em cima de traumas,
de ódios de estimação e amores a camisolas.
a vida é
uma puta duma confusão, portanto.
nos dias de hoje, a arte comanda os sonhos
e os sonhos, já se sabe, comandam a vida.
mas antigamente, no tempo que hoje desculpamos
sempre! o que é hoje indesculpável,
a vida era comandada por ambições,
legados,
sobrevivência,
ou pura mesquinhez,
que se podia rectificar no Santíssimo Sacramento
ou no tasco com bagaços, ambos ao Domingo.
vai daí, a geração mais bem formada de sempre,
os nativos da era digital,
ou outro palavrão qualquer
que nos colem nas costas,
tem de psicanalisar o caralho destes restos analógicos,
destas heranças de moralismo jacentes
na psique colectiva lusitana,
de que alguns cantautores conseguem sacar hits,
mas nenhum consegue exorcizar.
netos duma sociedade fascista falida
a renderizar numa quarta dimensão
movida a vapor de lítio de grandes conglomerados,
definhamos com peste, que nem medievos.
caía a ficha: ainda ninguém passara a laika.
a música que eles ouviam nas directas de entrega.
o pessoal ia saltar como os seus dedos
rasgavam alçados nas folhas brancas.
Mas arcade fire não é indie meio beto?
o will butler é um génio, foda-se. quem é este gajo?
ele não estuda aqui. deixa-o estar.
um bando de amigos improvável um ano antes
fielmente acompanhado por um penetra,
opinava apaixonadamente enquanto dançava
sobre se papa roach ou offspring seriam bons
para suceder na lista aos génios de neon bible.
os tipos não gravaram um álbum, tipo, numa igreja para
tipo, estarem encafuados entre punks e nu metaleiros de quinta
diz lá quando é o sporting-académica, e cala-te.
Hoje não há jogos - respondia o novato, alheado do código.
Pois, claro que havia. Jogava-se em casa.
Ninguém emigrado, todos por perto.
Irmãos ainda antes de ser amigos.
Num armário envelhecido cai
um post it para me lembrar
de arcade fire na faup.