domingo, dezembro 07, 2008

talvez o Jorge Nuno esteja mais certo do que gostam de nos fazer pensar

Podia-se dizer que ele José era um sortudo. Da mesma forma que os não-praticantes só passam a ir à missa quando se vêem mesmo à rasca, também ele só passou a gastar 4 euros todas as semanas no jogo porque não tinha outro remédio. Mês após mês com a corda na garganta, como se costuma dizer, toda a sorte do mundo era pouca. E também se costuma dizer que para se ter sorte é preciso fazer por ela. Um dia, lá foi a sorte que lhe calhou na rifa e não as contas do costume. 2 milhões de euros a sorrir para si. Sim, José era para todos os efeitos um sortudo.
Mas não fora a sorte que o movera, mas a necessidade. Oportunidades de ganhar assim tanto dinheiro eram menos que poucas. Pessoas da sua condição a ganhá-las menos ainda. Até que que enfim uma intervenção divina acertada. Mais do que o homem de sorte, que naquele dia toda a gente o acusou de ser, era o homem de projectos que nunca tinha tido a verdadeira hipótese de arrancar de si. Sabia, não seria o Bill Gates, porém podia assentar. E com conforto.
Só houve um episódio que o deixou mesmo fodido no meio desta história. Foi uma postura, ou regulamento, ou lei, ou apenas 'um mãos ao ar, isto é um assalto!' que foi aprovado não soube onde, nem por quem, com a nobre intenção de subtrair certa parte dessa preciosa dádiva, visando aplicá-la num meio distante, com pessoas estranhas, no tempo possível, que num certo futuro próximo, faria com que ele próprio sentisse os benefícios que traria 'deslocação de capitais'. Tudo isto os aprovadores lhe disseram e executaram antes que ele dissesse sim. Tudo isto não era senão justo e lógico, logo injusto seria José queixar-se.
Então quando José olhou para as suas mãos grossas e sujas e viu que abanavam, mandou à urtiga as cautelas e queixou-se a plenos pulmões. Porém, já não foi a tempo de apanhar nenhum jornalista a jeito. Decerto compreenderia José que a sorte vendia jornais, as tragédias abriam blocos noticiosos, já azares, esse pão-nosso-de-cada-dia, apenas doía no cu de cada um, pois cada um sabe de si nessas alturas. Além do mais, não ficava nada bem a José aquela súbita busca de protagonismo quando ainda pouco antes o recusara e, pior!, para se queixar de umas migalhas de pão. Não pensaria ele no bem da comunidade?

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