segunda-feira, agosto 27, 2007

para quem gosta de meter água

Agrival.

A Agrival, em Penafiel, é uma denominada feira agrícola, que, às excepção de um punhado de empresários afoitos, expôe sempre as mesmas coisas, das mesmas empresas, quintas, agricultores, cooperativas, quase sempre os mesmos passatempos aos quais ninguém com 2 dedos de testa dá muita importância, e o mesmo tipo de cantores pimba da berra (vá lá que à dois e um ano até vieram pessoas que faziam música, mas bons hábitos perdem-se rápido): os labregos adoram. Na verdade os labregos, os morcõezolas das aldeias, os saloios imbecis, que vêm com a família toda atrás, primos em 2º, 3º e 4º graus e respectivos filhos, pais e primos incluídos. Tirando o castiço de alguns deles, e da autenticidade de uns poucos o que é que é que fica: labregos e emigrantes a exibir-se. A pagar caés com notas de 50, a passear-se todos o dias pelo recinto (queixando-se todos os dias do preço), a ver sempre as mesmíssimas coisas com uma certa dose de desprezo. Porquê? Puro exibicionismo. Do mesmo mal padecem os camários e outros tubarões da cidade, que vão pa tenda da restauração comer e beber até cair para o lado, e garaem-se de como é boa a sua feira e de como existe de facto gente que gosta daquilo. Eles desfrutam do espectáculo com os seus amiguinhos do peito, e riem-se! e bebem! Pudera! Também eu riria. Também eles vão lá ver exactamente o mesmo de todos os anos, durante uma semana, mas porque têm livres-trânsito. Uma demonstração de poder, digo eu. E também eles vão com as famílias, enfim: o ritual é semelhante. Menos numa coisa: os filhos, os sobrinhos e toda a miudagem deles próxima estão a trabalhar nas barracas da Agrival, onde diga-se, se ganha bastante bem. Ou seja, uma boa parte de miúdos, que, não sabem o que é trabalho, que os pais dão dinheiro durante o ano para eles estourarem onde bem quiserem, são obrigados pelos mesmos pais, a trabalhar uma semana, para saber "o que custa ganhar o deles": que consiste em ficar sentado um dia inteiro à espera que os labregos lhes mandem uma piada do género "percebesde matemática? sabes quanto é 5 +5?"
Em suma, uma feira de vaidades.

Mas este ano, acabou em apoteose.
Trovoada e chuvas fortes, durante uma boa parte da tarde de domingo. O último dia. O dia de maior afluência. E deleito-me a imaginar o quadro: os labregos com um dedo de testa a refugiar-se dentro do recinto e tendas abarrotando tudo aquilo, até o espaço e o calor se tornarem insuportáveis, enquanto que os labreos com dois dedos de testa, fogem da feira a sete pés para os carros, porque sabem que para o ano há mais e por 2007 já está tudo dito, os tetos das barraquinhas a voar e acoorer chuva fora, atrás deles, os filhinhos dos papás, a amaldiçoar a sua vida por não estarem em casa no MSN, e os papás também a amaldiçoar-se pelo fato molhado e o o penteado estragado.
Um apocalipse agrícola. Que quadro lindo!

E pobre de mim que lá não o pude ver, e tenho de me fiar em alguns relatos e nas minhas suposições. É que costuma dizer-se que quem anda à chuva, molha-se.

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