como se expulsa o amor? o cárcere tirou-me do meu lugar, mas não me calou a saudade. era o amor que me elevava acima dos demais, em tronco nu a cantar por ele, dos desertos mediterrânicos, ao gelo de Moscovo. o amor não é algo que se possa ter para expulsar. e no entanto, a carta de despedida veio escarrapachada nas telas e nos ecrãs, sem a dignidade privada dos correios. bem se queixava o vieira "eles fizeram-me isso?". o júlio césar (o primeiro) também disse aquilo do "até tu?"
lá fora ouço-os chamar por mim. "o primeiro preso político do pós-25 de abril". eles lá sabem do que falam. mas, no final de contas, aqui estou, a pagar antecipadamente pelos pecados de todos nós. por isso, que me amem como eu os amei. é o mínimo.
mas a quem amei desde o dia do meu primeiro sopro de vida, não me quer mais. através das paredes, ouço dizer que o meu amor me renega. nem foram necessárias três oportunidades para o fazer. o meu mentor diz que tudo podemos, que o céu é azul e infinito. mas do cárcere não se vê o céu. agonio fechado e não sei como me manter inconformado se não posso agredir o destino.
nem nos meus maiores pesadelos deixei a curva. a curva que eu prometi que nunca o iria deixar. ao meu amor. à minha vida. que agora me deixa a mim.