domingo, outubro 30, 2011

esse olhar que era só teu




vi o olhar com que vigiavas as gaivotas que abandonavam o pôr-do-sol de outono.

cobicei-to. cobicei-o com todo o fogo do meu sangue. mas ele era só teu.

ali, aonde nós, e todas as coisas acabavam.

sexta-feira, outubro 28, 2011

A olhar para a frente
vazio de conteúdo.
Como num cinema escuro
a assistir a um filme mudo,
em tons de preto e branco
sendo o silêncio a chave
para me alhear de tudo
e compreender
cada sílaba bem pronunciada
numa frase inaudível
mas acabada
com peso, conta
e medida.
Olho para a frente
e calculo
a partida feita
a partir do nulo
para algo que floresce
pelo frio num casulo
à espera do sinal
para nascer.
Qual contagem decrescente
para a descolagem eminente,
tudo
nunca pareceu tão certo.
É de estranhar
todo o cálculo dar errado.
E estranho ver-me tão perto
do que me encontro a olhar
parado.
Siderado
à espera da cena seguinte.
Á espera do próximo acto.
Implorando como implora um pedinte.
Falhando como só falha um novato.
Aguardando na próxima deixa
a satisfação da resolução
do entendimento da questão
e que assim se simplifique,
por fim se desmistifique,
e se desate
o nó cego da mudez
que me deixou a olhar em seco,
para a tela pintalgada de pessoas
mudas, ignorantes de quem as fez.
Como eu as fiz,
quando as olhei
como aprendiz
e ansiei
num próximo passo
um desfecho possível
para um novo fracasso,
ainda nem sequer
escrito ou concebido
ou inventado.
Tudo é vazio de conteúdo.
Encontro-me ao fundo de uma tabela
a assistir ao mundo
como quem assiste a um filme mudo.


(poema retirado do livro "X", disponível aqui)

terça-feira, outubro 25, 2011

Because of all the things

"Give it some time. Mulling it over.
Pulling down the shades ‘til the nerves recover.
You wanna know what’s really bothering me?
I’m not passive aggressive, but I had to leave.

Because of all the things I couldn’t say to you.
Because of all the things I couldn’t say to you.
Because of all the things I couldn’t say to you.
Because of all the things I should have said.
Because of all."

segunda-feira, outubro 24, 2011

Toxicidade 2

Um veneno.
Todas as pessoas são um veneno.
Todas as pessoas a querer pequeno
o ego de todas as pessoas
para o seu alastrar largamente.
Sem censuras, de livre consciência
a deixar acidez na latência
de cada espera, de cada inércia
para agir.
Assegurar que fugir
não será uma alternativa
ao fugitivo.
Por muito furtiva
que seja a sua tentativa
de sair vivo;
compete a todo o agente
declará-lo morto
por unanimidade.
Furtivamente,
pela calada da verdade.
Quem diria
tão demente
a nossa gente?
Somos nós?
Então somos quem?
Com que voz?
se não há ninguém…
Só mágoa envenenada.
Solidão disfarçada
por uma democracia
de valores não assumidos,
onde mais vale definitivamente mortos
que assumidamente vivos.

(poema retirado do livro "X", disponível aqui)

sexta-feira, outubro 21, 2011

I NEED TO WATCH THINGS DIE!...from a good safe distance

khadafis, ladens, sírias, líbias, iémens, somálias, palestinas, indignados, okupas, enrascados, grevistas, sindicalistas, apartidários, apátridas, emigrantes, negociantes, traficantes, diplomatas, burocratas, hipocratas, buracos, défices & portugais surreais


"Credulous at best your desire to believe in
Angels in the hearts of men
Pull your head on out your hippie haze and give a listen
Shouldn't have to say it all again
The universe is hostile, so impersonal
Devour to survive... so it is, so it's always been

We all feed on tragedy
It's like blood to a vampire

Vicariously I live while the whole world dies
Much better you than I!"


quarta-feira, outubro 19, 2011

the heart of a lion!



"Don't let these fuckers grind you down
Don't let these bastards kill your soul
Bottom feeders in the worst way
A bunch of fucking turncoats
You gave them more than they ever gave back
And now everyone knows
Don't let these fuckers grind you down
Don't let these leeches suck you dry
You've got the heart of a lion
You've got the strength to survive"




Post Scriptum: o riff final é particularmente épico.

terça-feira, outubro 18, 2011

Autmn Into Summer



deixamos o chão, as folhas, o ar serem sugados pela labareda. pela gravidade da situação, deixamos o ouro da nossa vida arder, incinerar, ebulir. deixamos. deixamos de ser gente, por isso fugimos da luta que era fugir. que era avançar na quietude do outono. de descansar os pés e os ombros no regaço de uma qualquer árvore maternal. deixamo-nos. deixamo-nos queimar, aos gritos, na vez do descanso.

segunda-feira, outubro 17, 2011

"mas o tempo moeu na sua mó"

continuo preso à miragem do tempo passado que se sobrepõe ao tempo presente. os eventos que se repetem na mesma cadência e ao mesmo compasso de todos os outros que os antecederam, desviando-se deles aqui e acolá, suportam-nos e às suas nuances ultrapassadas, numa invisibilidade de marca de água. tudo volta, inavariavelmente, a ser sentido, de tudo volta a ser sentida a falta. em dias diferentes, em climas diferentes, em horas diferentes: mas os dias e os meses do calendário têm sempre o mesmo nome, ainda que avancem na semana com o passar dos anos, as estações continuam as mesmas ainda que se revezem de forma imprevisível e as horas sempre deram de si fora de horas como dentro delas. as palavras sofrem a mesma herança dos outros a quem foram ditas. os sentimentos também. e continuo preso a essa angústia, e quase faço de conta que sou eu a estar no presente que corre, não obstante a minha solidez de fantasma.

terça-feira, outubro 11, 2011

"How can I put it, you put me on
I even fell for that stupid love song
Yeah, yeah, since you've been gone
How come I'd never hear you say
I just wanna be with you
Guess you never felt that way."


os meus restos são memórias. não do fim, mas do início. o início, o passado são os meus filmes predilectos. decalco-as (memórias) nas noites de hoje, quentes fora de época, enquanto subo e desço as ruas de uma baixa morta, com o mesmo desalento de saudade desse outro tempo. sempre sem a mesma vivalma por companhia. sempre com algum sameiro longínquo a indicar o caminho. o caminho que foge do início, do passado, das memórias. de um tempo em que era eu e a minha solidão a irmos embora.



domingo, outubro 09, 2011

Restos



"ya, eu deixo o melhor para o fim!
mas nunca tenho fome para tudo
então o melhor nunca é para mim.

este é o dia em que eu me torno egoísta
dou um tiro no melhor amigo do homem
e reclamo os restos de uma vida.

eu vivo para o dia em que finalmente fecho os olhos,
durmo as horas de sono em atraso e acordo mais jovem
recuso-me a viver sem evitar cometer loucuras,
por isso mata-me quando eu te deixar, e não peças desculpa.
sem medo da morte, estou mais que morto por uma mudança
não há esperança, nem mais brilho, nem mais força, nem garganta.
quis deixar o melhor para o fim, devia ter-me certicado
que estava motivado para levar o projecto a cabo.
agora busco uma oportunidade diferente,
perdida algures no caminho entre a terra do nunca e a terra do sempre,
porque eu sei! eu sei que existe um sítio melhor do que este,
deve estar guardado para o fim e eu não vou chegar ao fim tão cedo.
concordo plenamente, vai ter de ser inesquecível,
com a tonalidade certa qualquer lixo é comestível.

eu fico com os restos. vamos acelerar isto,
passar a parte feliz da história à frente
para eu estar pronto para a tempestade do fim.

ya, eu deixo o melhor para o fim!
mas nunca tenho fome para tudo
então o melhor nunca é para mim.
este é o dia em que eu me torno egoísta
dou um tiro no melhor amigo do homem
e reclamo os restos de uma vida.

ok, vamos adiar mais um pouco.
dar tempo ao público para conhecer o homem por detrás do louco.
sou pouco diferente dos outros.
eu também sonho, também rio, também quero ser feliz,
também durmo, só não me lembro da última vez que o fiz.

ah! este filme é seca,
a contagem decrescente para o tão esperado final é cíclica
então eu dou-vos uma tragédia.
eu já vi isto, eu cheguei ao ponto em que estrelas são fogo,
nuvens são água, amor é sexo e nada para além disso.
preciso de mais do que uns efeitos especiais janotas
para arrancar aplausos das velhas e inexpressivas rochas.
tenho de ser rápido, esperto, trocar o ego pelos restos,
tenho de conseguir cuspir para o vento para treinar os reflexos.
perdoem-me se gaguejar ou ficar com a voz rouca,
há aqui muita coisa que odeio e a motivação já é pouca.

mas eles disseram para comer e calar e ter força
eu vi a cidade dos arranha-céus, arranham-me o céu da boca.

ya, eu deixo o melhor para o fim!
mas nunca tenho fome para tudo
então o melhor nunca é para mim.
este é o dia em que eu me torno egoísta
dou um tiro no melhor amigo do homem
e reclamo os restos de uma vida.

poesia visual com miragens, desenho imagens.
começo a escrever imagens e nem sequer noto a passagem.
assim, tentei guardar o melhor para o fim da jornada
e por fim provei que eu não troco a ordem das palavras.

eu não troco a ordem das palavras."

terça-feira, outubro 04, 2011

O fim de um parto difícil.


A vontade de dar um corpo físico a alguns dos meus escritos já era antiga. Acho que qualquer pessoa que goste de escrever, e faça gosto em escrever, tem sempre uma certa ânsia, sonho ou desejo de um dia publicar o que tanto lhe custou ou emocionou a escrever. Há cerca de três anos, por esta altura, julguei ter material "poético" suficiente para me aventurar a fazer um "livro", e resolvi tentar. E conceber um livro é um parto difícil: será sempre o nosso menino, mas ninguém quer dar à luz um enjeitado. Assim, de à 3 anos a esta parte venho fazendo o resumo do percurso dos anos anteriores a partir do que escrevi. Tentar retirar o sumo, descobrir um encadeamento qualquer, o mais lógico ou o possível. Ao mesmo tempo, fui lapidando e revendo o que escrevi, o que pode igualmente ser doloroso. Olhar, olhos nos olhos, relatos de emoções há muito enterradas é um pouco como reencontrar retratos de gente querida que partiu, há muito tempo. Nesses avanços e recuos, o "livro" e os "poemas" foram ficando, apesar das indecisões, das faltas de motivação e de tempo. Até que, num raide da vontade, ele nasceu. Não muito bem programado, é certo, um tanto nado velho até, pois se os "trabalhos de revisão", chamemos-lhe assim, começaram em meados de 2008, a verdade é que o rasto dos "poemas" se perde pelo passado (salvo erro o mais antigo foi escrito em 2001). O ter ficado a marinar todo este tempo confere-lhe um estatuto, não de dever cumprido, mas de dever arrumado. Não se trata de uma história de vida, tão pouco uma experiência ou epifania. É apenas um conjunto de "poemas", escritos por mim, que juntos me pareceram ter algo para contar, porque enquanto retalhos de emoções, situações, histórias, de uma juventude entre o revoltada e o sofrida, entre o êxtase e a solidão, entre uma escola e uma faculdade, entre Penafiel e o Porto, revelaram-se a prova última da circularidade das quedas e das ascensões dessa mesma juventude. Não correspondendo com precisão à minha história, julgo que podia ser a história de qualquer pessoa. Por isso não tem nome, mas só um X.
Espero que possa ser do agrado de quem ler, ou, pelo menos, que possa suscitar alguma reflexão: qualquer uma dessas e esta publicação já seria uma vitória.

O link para quem estiver interessado em encomendar o livro, ou fazer o download em .pdf é o seguinte: http://www.bubok.pt/livros/4580/quotXquot
A quem este sistema on-line de encomenda suscitar alguma desconfiança, asseguro desde já, que encomendei um exemplar-teste, e o mesmo chegou-me às mãos cerca de uma semana depois.

segunda-feira, outubro 03, 2011

Hailin From The Edge



"A king from the stars went through the Mars
I've seen way more, that I can never take
You've got some time to spend with me, dear
So I've left it all behind

Hailing from the edge
Hailing from the edge
Hailing from the edge
Hailing from the edge"