A olhar para a frente
vazio de conteúdo.
Como num cinema escuro
a assistir a um filme mudo,
em tons de preto e branco
sendo o silêncio a chave
para me alhear de tudo
e compreender
cada sílaba bem pronunciada
numa frase inaudível
mas acabada
com peso, conta
e medida.
Olho para a frente
e calculo
a partida feita
a partir do nulo
para algo que floresce
pelo frio num casulo
à espera do sinal
para nascer.
Qual contagem decrescente
para a descolagem eminente,
tudo
nunca pareceu tão certo.
É de estranhar
todo o cálculo dar errado.
E estranho ver-me tão perto
do que me encontro a olhar
parado.
Siderado
à espera da cena seguinte.
Á espera do próximo acto.
Implorando como implora um pedinte.
Falhando como só falha um novato.
Aguardando na próxima deixa
a satisfação da resolução
do entendimento da questão
e que assim se simplifique,
por fim se desmistifique,
e se desate
o nó cego da mudez
que me deixou a olhar em seco,
para a tela pintalgada de pessoas
mudas, ignorantes de quem as fez.
Como eu as fiz,
quando as olhei
como aprendiz
e ansiei
num próximo passo
um desfecho possível
para um novo fracasso,
ainda nem sequer
escrito ou concebido
ou inventado.
Tudo é vazio de conteúdo.
Encontro-me ao fundo de uma tabela
a assistir ao mundo
como quem assiste a um filme mudo.
(poema retirado do livro "X", disponível aqui)