terça-feira, setembro 30, 2014





"É triste ir na vida como quem
regressa e entrar humil­de­mente por engano pela morte dentro
É triste no Outono concluir
que era o verão a única estação
Pas­sou o soli­tá­rio vento e não o conhecemos
e não sou­be­mos ir até ao fundo da verdura
como rios que sabem onde encon­trar o mar
e com que pon­tes com que ruas com que gen­tes com mon­tes conviver
atra­vés de pala­vras de uma água para sem­pre dita
Mas o mais triste é recor­dar os ges­tos de amanhã."


Ruy Bello, In "A mão no Arado"

terça-feira, setembro 23, 2014


"Afinal, o espírito, abandonado a si próprio, é industrioso como Robinson na sua ilha. Ele se encarrega de chamar a multidão e erguer o teatro. Que horror de matar o tempo a facalhão ou esganá-lo vendo-o a estrebuchar e espichar sangue! Para Diamantino Dores, alto funcionário da Prefeitura carioca, a eternidade não tinha cor, nem volume, ou melhor, que se lhe enrolou ao relógio de pulso, sem dar conta, até o momento em que o litoral apareceu florido de lumes, extensíssimos renques de papoilas: a costa pernambucana."


- Aquilino Ribeiro, in "Mina de Diamantes"