sábado, fevereiro 28, 2015

(o bom, o mau) deixa-os pousar


o sol, veio de boleia com a noite, e ultrapassou o nevoeiro de primavera de gás, dia adentro. metereologia, meus amigos, começa sempre pela meteorologia. para sacar cervejas do frio e preparar bifanas ou desabotoar os botões dos punhos das camisas e arregaçar-lhes as mangas. mas no final, tudo acaba com o tempo. porque o tempo passa, sem sermos heróis ou vilões. o maniqueísmo e a catequese estão mortos. o rock não é hardcore, a cerveja é contada e o futebol é a passo que não de corrida. 'deixá-los pousar' de arte a ciência porque as nossas pernas já não são as de brinca na areia.
haja sol. haja uma meta. haverá sempre mais um sprint. mesmo quando o tempo já tiver acabado.

sábado, fevereiro 21, 2015

"i had such fuckin hopes for us"


o teu sentido prático desaponta-me. 
eu também sei que não vou a lado nenhum, e não me troco por ninguém.
tive medo que não estivesses a compreender,
por isso repeti-te muitas vezes que te amava;
que se partisses, me arrancavas pele e carne, como arame farpado.
(depilação de carne com aço)
as tuas hesitações não venceram a oportunidade.
só aumentaram a dor.
eu disse-te e mostrei-te as cicatrizes que iam ficar abertas.
fi-lo a cantar
com berros e pontapés no ar.
eu tinha tantas esperanças para nós!
encontrados nos cruzamentos do futuro,
que tipo de dança vamos dançar?

"I'm begging, please come back to me!
A life is now at stake
If you don't soon return
You're gonna drive me to my grave"

domingo, fevereiro 15, 2015

o frio é um lugar estranho

Por estes dias, o cinzento é omnipresente. Eu diria que o próprio ar é cinzento. Como um filtro fotográfico, a meteorologia realça a cor de chumbo das imagens que os olhos captam. Em reacção, o corpo pede malgas de nescafé quente com açúcar, um aquecedor a óleo ligado no interior de uma casa velha onde as madeiras rangem quando o vento sopra, ou algum colega de andar arrasta a ressaca para a sala, para uma matiné domingueira de SporTV.
O Inverno, e a iminente Primavera, relembram-me saudades do meu Bintoito. Porém, a imagem que me surge mais nítida são a das viagens que faço por esta altura. Delft, Barcelona, Paris, com destaque para as centro-europeias. A geografia dessas latitudes compreende melhor esta época do ano. Nós, "latinos" somos duros mas os chiares de joelhos e pingos no nariz dobram-nos como plasticina.
O meu corpo surpreende-me com uma carência, mimela, de frio a sério. Do sol gelado sobre a Torre Eiffell e os Campos Elísios; mãos acolchoadas à procura da câmara para registar tudo; a companhia do Leitão no papel de guia e turista pela Paris que quer conhecer pelos olhos de outra pessoa; o rio, as ilhas, uma cidade com charme de uma aristocrata poetisa e musa. A Holanda falta-me nos serões de panrico com nutella, num quarto com aquecimento no máximo e na habitualidade serena da legalidade daquelas paragens; Delft existe sem correr, como os canais debruados de neve; as pessoas geladas deslocam-se em bicicletas: têm tempo e assim é melhor. Quem diria do enérgico Nuno Sousa um exemplar cidadão holandês? A forma simples como, sacramentalmente, a noite do grupo de tugas, não poucas vezes acompanhado de brasileiro e sueco, se dirigia das suas residências para determinados bares onde os cantos da casa são conhecidos até de olhos fechados. A busca incessante de um EP local como se de um Santo Graal se tratasse. Amanhã poderia estar abraçado a essas rotinas como se fossem minhas desde sempre; a familiaridade do percurso e dos companheiros são determinantes. Ainda que ensombrado pelo desgosto, vigiado pela inocente rapariga do brinco de pérola no hangar, e a neve parecesse que nunca se iria embora.
O meu corpo, carente e mimelo, quer festa. Deitar-se num colchão improvisado numa cidade diferente, e sujeitar-se a aventuras com pessoas que conhece desde sempre. Habituou-se mal. Conseui aldrabá-lo, porém, com a incursão às aldeias de xisto, nas montanhas. As montanhas! Senti-o como se tivesse 5 anos outra vez a brincar no monte do meu avô, ou no quintal entre as espigas de milho.
Por agora, Penafiel, o meu inferno, é tudo o que me resta. Igual em todas as alturas do ano. Como o meu ADN.

terça-feira, fevereiro 10, 2015

Boaz and the dogs


Fantasmas de olhos claros
verdes, azuis, cristalinos
assombram os meus olhos
e as imagens onde pousam.

Fantasmas de olhos claros
omnipresentes, unos, no passado e presente.
Delineados em marca d'água
nas ondas da memória
no mar que nada esquece.

Fantasmas de olhos claros,
vultos calados que escrutinam,
pacientes, a minha ânsia,
observam, sem dó, a minha sede
e o fumo que não sai da minha boca.

Fantasmas de olhos claros
marcados na minha carne
do lado de dentro da pele,
são assombrações.
Os seus corpos nunca pertenceram aos olhos do meu.

segunda-feira, fevereiro 09, 2015

bitch, don't kill my vibe


Perseguido como uma presa
por caçadores mortos
numa planície morta
espalhada até
montanhas mortas.
Aqui só existo eu
a ser caçado.
Assombrado e perseguido.
Olho em frente.
Olho em frente
senão caio e morro
esmagado,
caço.
O além é só uma latitude e longitude diferentes daqui.