"Esse medo, sendo algo que não saía, era já como um dado físico concreto: como um nariz torto, como um olho cego, como alguém que coxeia. Hinnerk não saía à rua sem o medo, não ficava em casa sem medo, não adormecia sem o medo, e mesmo nos momentos em que a consciência se tornava menos construída, quando a individualidade apresentava a estrutura mais frágil - como nos sonhos -, mesmo aí uma espécie de azedume fixo permanecia constante no meio da aparente loucura de imagens que se sucediam sem controlo, misturando espaços, tempos, possibilidades e impossibilidades."
Gonçalo M. Tavares, "Jerusalém"