"É de ficarmos pasmados. Se os erros «mais comuns» de português chegam a 500, então os erros comuns e os menos comuns hão-de orçar pelos vários milhares, e o idioma seria um campo de minas, onde cada deslocação centimétrica levaria ao desastre. Mas, que fazer, as sacerdotisas e os sacerdotes do Erro são gente empenhada, sempre a segurar-nos pelo braço, não fôssemos nós afundar-nos num precipício.
(...)
Esta convicção de ser um instrumento irremediavelmente adulterado aquele com que nos exprimimos é, se virmos bem, comum a todo este clã, qualquer que seja o grau de ingenuidade ou de charlatanice. Caracteriza-os a desconfiança como método, que só convém incentivar a insegurança generalizada no utente. Aos olhos destes novos normativistas, tudo quanto no idioma não for lógico, racional, arrumadinho, feito a régua e esquadro, é banido como incorrecto, impróprio, condenável. O velho mantra «A língua está enferma» motiva-os, a todos, na nobre missão de nos desmoralizarem."
Fernando Venâncio, in "Assim Nasceu Uma Língua - assi naceu ũa lingua"