A família das Garrafonas sempre foi, para mim, um mistério. Digo para mim, porque, aparentemente, não o é para mais nenhum dos meus conterrâneos, seja família, amigos ou conhecidos. Quando revelo que não saber quem são as Garrafonas, a resposta é curta e óbvia "sabes, sabes. agora é que não estás a ver." Mas de facto, não sei, nem vejo. Nunca travei conversa com nenhum dos seus afamados membros, e decerto lembrar-me-ia se alguém se fizesse apresentar ou conhecer por "o Garrafão". Mas o problema também está aí: não é "o Garrafão", são as Garrafonas.
Pareceu, certo dia, que, finalmente, o meu exílio coscuvilheiro iria terminar, quando ouvi uns amigos referirem-se ao professor Chico, como o Chico Garrafão. Perguntei se era Garrafão por andar na pinga, mas não; era "porque é casado com uma Garrafona". Mas eu não sei quem são as Garrafonas. "Claro que sabes". E não, não sabia. Vi a dita senhora uma vez na vida, se tanto, não lhe fixei o nome e nada na sua aparência a tornou memorável, nomeadamente, por se assemelhar a um garrafão; tão pouco por se assemelhar a outra pessoa com traços de garrafão. Ou Garrafona.
Bem se vê que fiquei na mesma. Sem uma cara para associar a tão reputada família de cognome matriarcal. Agora com a agravante de associar o professor Chico, e todos os seus familiares consanguíneos, aos Garrafões, com os seus olhos azuis, cabelos louros, e amantes da boa vida. De vez em quando tento a minha sorte e pergunto se o não-sei-das-quantas é um Garrafão. A resposta é quase sempre a mesma: "não, a mãe é Garrafona, mas o pai é dos Paulinos".
Ora, merda.