No ido Janeiro de 2020 decidi reformar de vez as minhas colectâneas em suporte CD e dedicar-me a tempo inteiro a fazer playlists no Spotify, com periodicidade trimestral. Com enfoque na música que nesses trimestres mais ouvi. Sob compromisso de lançar cada uma dessas playlists até ao fim do mês seguinte. Evitando que o mesmo projecto, e se possível o artista, se ouvisse com menos de 20 músicas de intervalo. Assim, desde Março de 2020 até agora, Fevereiro de 2023, com maior ou menor bom gosto, maior ou menor pontualidade tenho conseguido lançar a trimestral festa. Digo até agora, porque decidi rever o formato e pôr um fim à F. The Nef saga,
Foi um exercício interessante que consumiu uma boa parte dos meus últimos 3 anos. O que em princípio seria um mero repositório de músicas mais rodadas rapidamente se revelou um hercúleo esforço conceptual. O maior desafio surgiu logo no final do primeiro trimestre 2020 com a pandemia a abrir caminho nas nossas vidas: foi impossível não verter em Abril de 2020 uma parte do negrume que se avizinhava. O desafio seguinte foi reflectir no Volume 2 a tensão quieta que se sentia nas ruas, na música que se fazia sentir na apocalíptica ausência de sons. Para o efeito dei prioridade a singles e álbuns lançados em 2020. Modéstia á parte, e muito graças aos lançamentos de Puscifer, Mac Miller, Nine Inch Nails, e ao inesperado volume de tempo fechado em casa, esculpi uma coerente colectânea de 13 horas, que reflecte bem a expectativa triste presente em muitos de nós. A partir daí a composição foi mais diversificada (nem a minha força anímica aguentava mais maratonas de música depressiva), e mais à boleia do que as músicas pediam, do que algum conceito predefenido. Excepção feita ao Volume 7, o único em que, propositadamente, não me escusei de repetir artistas a cada intervalo de 20 músicas: aqui a ideia foi começar o mais calmo e críptico possível e ir gradualmente aumentando de intensidade, desde o neo-clássico Nils Frahm até ao metal de Moonspell, Deafheaven e Bossk, concluído com o caos total e, encerrando o ciclo, não menos críptico dos GY!BE e Anna von Hausswolf.
Por agora, os caretos das playlists vão descansar. Foi um prazer ser musicalmente autista convosco.