aves de silêncio e solidão.
Somos só folhas ou o seu rumor.
Inseguros, incapazes de ser flor,
até a brisa nos perturba e faz tremer.
Por isso a cada gesto que fazemos
cada ave se transforma noutro ser."
This is prophylaxis, a practiced absence, a safer distance. He is a fine clinician to diagnose this, a sound decision. This is a family practice, it's anesthetic, it's nonreactive. This is a termination, a fine resemblance, but no relation.
como se expulsa o amor? o cárcere tirou-me do meu lugar, mas não me calou a saudade. era o amor que me elevava acima dos demais, em tronco nu a cantar por ele, dos desertos mediterrânicos, ao gelo de Moscovo. o amor não é algo que se possa ter para expulsar. e no entanto, a carta de despedida veio escarrapachada nas telas e nos ecrãs, sem a dignidade privada dos correios. bem se queixava o vieira "eles fizeram-me isso?". o júlio césar (o primeiro) também disse aquilo do "até tu?"
lá fora ouço-os chamar por mim. "o primeiro preso político do pós-25 de abril". eles lá sabem do que falam. mas, no final de contas, aqui estou, a pagar antecipadamente pelos pecados de todos nós. por isso, que me amem como eu os amei. é o mínimo.
mas a quem amei desde o dia do meu primeiro sopro de vida, não me quer mais. através das paredes, ouço dizer que o meu amor me renega. nem foram necessárias três oportunidades para o fazer. o meu mentor diz que tudo podemos, que o céu é azul e infinito. mas do cárcere não se vê o céu. agonio fechado e não sei como me manter inconformado se não posso agredir o destino.
nem nos meus maiores pesadelos deixei a curva. a curva que eu prometi que nunca iria deixar o meu amor. a minha vida. que agora me deixa a mim.
Acho que a minha forma favorita de descobrir música nova ainda é através das recomendações de amigos. "Já ouviste o novo do Kamasi?", "Vais ao lançamento do novo do David Bruno?", "Ouve Kanaan. Puta de jarda, Pedro", ou uma partilha de link sem aviso ocupam um lugar especial na espuma dos meus dias. Não que os algoritmos não sejam úteis, porque são. Permitiram-nos tropeçar em muitas coisas novas boas ao longo dos últimos anos. Estar um passo à frente da saudável concorrência da descoberta amadora pela vanguarda musical de. Mas não são a cena. Não são um selo de qualidade de alguém que nos é querido. Ou a promessa de um grande concerto em que vamos estar abraçados uns aos outros. Ou do potencial uma cantoria noite dentro, já com umas cervejas bem bebidas. No fundo, partilhar música é um acto de amor. Ouvi-la é eternizar um pouco a pessoa e o momento em que a ouvimos pela primeira vez.
"- And what do you hope to gain? From all this... hue?
- Honor?
- Are you asking me?
- No. Honor. That is why a knight does what he does.
- And this is what you want most in life?
- To be a knight?
- No! Honor. You are not very good with questions."
"The Green Knight"
"E é aí - disse sentenciosamente o director, à guisa de contribuição ao que estava a ser dito - que está o segredo da felicidade e da virtude, gostar daquilo que se é obrigado a fazer. Tal é o fim de todo o condicionamento: fazer amar às pessoas o destino social a que não podem escapar."
Aldous Huxley, "Admirável Mundo Novo"
Mantendo o hábito de assinalar os pontos altos do ano transacto musical em Janeiro, algumas notas aos meus leitores.
A) Os Lagartos e os Oceanos, tecnicamente, empataram. Ambos lançaram verdadeiros mananciais de jardas. E se o Holocene é mais um maravilhoso capítulo à ode geológica dos The Ocean, o Petradragonic é visceral, inquietante e termina (prenunciando o final do planeta Terra, quem sabe?), literalmente, em chamas.
B) De diversos projectos, de elevada qualidade que reinterepretaram música africana, o Scúru Fitchádu levou a taça. Menos intenso que o álbum interior, com ginga para todos os ouvidos que querem, mas não necessariamente para os que podem. "Olho por olho, dente por dente." Rei entre reis, num ano de excelentes e excitantes projectos em Portugal.
C) Descobri a malha do ano num festival à beira-rio em Crestuma, justamente por uma banda de conterrâneos meus, sobre fazer planos para depois do covid. Desconfinados, o mundo era nosso, a prisão tinha terminado. Foi tão respirar fundo outra vez fora de portas, ir a concertos, sentir que ir ao Japão voltou a ser tão possível como ir ao Sameiro, ou que Hollywood estava à distância duma final da Taça, ou até de Hollywood. E que bom foi esta epifania ter ocorrido no Vale do Sousa.
D) Gigs do ano voltaram a ser mais que muitos, mas a poderosa tinha de ganhar. Quem viu, apaixonou-se! Palavra de quem cantou o De-Loused in Comatorium, do início ao fim, debaixo de um temporal. Se os Mars Volta tivessem tocado a "Televators", talvez levassem o primeiro lugar. Mas não tocaram. Na verdade, até eles só ali estavam ali para ver a Rosalía, Cédric Bixler-Zavala dixit.
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