terça-feira, agosto 19, 2025

o monte

 os lobos uivaram há muito tempo. os fetos esqueceram-se do pau que os vergastava na mão de uma criança sem tempo. os eucalitpos caídos até à porta da quinta, foram o presságio do efémero de tudo.

depois, veio a mudança. a morte dos avós. o fim do monte, mais casa que a própria casa, chegou.

se calhar nunca esteve a salvo do futuro. a quinta tornou-se um lugar. que se tornou uma aldeia, à qual a cidade se estendeu timidamente. boas notícias, sem dúvida para quem precisa de terra e dos seus frutos para comer. de um centro de dia para sua velhice.

as silvas teriam sempre de ser sacrificadas no altar da especulação imobiliária. para dar lugar à ganância dos prémios trimestrais aos agentes facilitadores de obtenção da cidadania nacional.

mas o monte existia para ser eterno. mesmo às portas da urbe e cerceado pela auto-estrada, o monte existia para ser de todos. e não esquecido, como o passado.



terça-feira, agosto 05, 2025

o bicho

 

o duro. o bravo. o único.
o penta. o cabeceador de olhos azuis.
o praxante. o carregador de piano
fazedor do trabalho sujo.
que nunca quis partir.
o que voltava sempre.
o menino das antas.
o senhor de sevilha, gelsenkirchen e tóquio.
o capitão dragão.
o meu homónimo.

deixaste-nos muitas lágrimas nos olhos à custa de tantas vitórias, bicho. deixaste-nos água na boca por aquelas que estavam por vir.
que notícia triste, bicho. e ao mesmo tempo, que bonito ter-te tido no final na casa que foi sempre tua.