A opinião pública é a nova arma de destruição maciça.
Poderosa e de força aumentada pela crescente
imediatividade da informação: inversamente
proporcional à velocidade a que nos chegam aos ouvidos
as boas novas, que aumenta a cada dia,
cresce a dificuldade em pôr açaimes a essa
informação. A consciência deste facto, desta
equação, torna a multidão sem rosto,
um inimigo
a acautelar.
Nas mesas de voto, como nas mafiestações,
nos blogs, como nas revoltas e vandalizações.
Na arte como em raivosos e simples pregões.
Então e quando
a informação não passa o muro?
Quando há curiosidade
particular em saber o que se passa
num certo sítio?
Então e quando
as portas se estampam
todas na nossa cara!?
O que fazemos nós,
os detentores dessa tal bola de fogo?
O facho de luz mais vibrante da democracia global?
Essa
que não admite
atropelos
de ninguém
a verdades
universais
como
os Direitos Humanos?
Confiamos nos nossos governantes.
Confiamos nos nossos governantes,
exactamente os mesmos em quem
as nossas esperanças falham
no que se refere a impostos,
obras infraestruturais de elevada importâncias
e remodelações no sistema de ensino,
e em relação aos quais a nossa desconfiança
explode de 5 em 5 minutos.
Mas então e se
o muro quebrasse,
algo,
pouco,
não importa,
passasse.
O que faríamos?
Como reagir
e que reacção
exigíriamos
aos nossos
governantes?
....
O nosso sofá continuaria com o nosso peso em cima, acho.
Bem como o balcão do fafé continuaria ocupado, pelo jornal.
Entre janelas de Windows e programas de texto
a nossa atenção desviar-se-á por alguns momentos
a certos sites informativos em busca de uma ou outra notícia.
E
a isso se resumiria
e
resumirá
o nosso inconformismo face
à intolerabilidade de toda a situação.
A verdade é que
os mesmos que admitem um Kosovo
não admitem um
Tibete.
E o cerne está quase todo aí.
Bem vistas as coisas,
quase todos os restantes desenvolvimentos
são prolongamentos do mesmo cancro.
E o mal, ainda que
dificilmente cortado pela raíz,
alastraria
inevitavelmente.
Não importa à quanto tempo anexado pela China,
no que toca ao sentido de Nação,
pois a história do mundo sempre se fez
de avanços e recuos no mesmo globo de vidro
onde o espaço está contado.
Mas importa á quanto tempo essa anexação
resulta num assassínio cultural
e físico.
Todos sabem porque é que o Dalai Lama vive na Índia.
Todos sabem que tem legitimidade para pedir
autonomia (e ja ninguém fala em independência)
a um território que sempre a teve.
Todos sabem que no Tibete já cada vez menos há
tibetanos.
E TODOS sabem
que as manifestações que têm sido feitas
num território tão implacável ao discurso livre
como o é a China
visam tirar proveito das atenções centradas nelas
por causa dos Jogos Olímpicos.
Não.
A situação tibetana não é
a situação pacata
que a China sempre pintou.
E nós nunca supusemos
que fosse de outra forma.
Por esse mesmo conhecimento
a melhor forma
que arranjamos para combater o genoícido tibetano foi!
ignorar mais uma vez
que ele estava
e está
e estará
a acontecer.
O Dalai Lama continuará a dar com portas fechadas
por esse mundo fora.
Da mesma maneira que continuaremos a dar com informação altamente condicionada
quando pretendermos exercitar a nossa curiosidade
sobre o que se passa no Tibete.
Quero regressar agora ao ponto de partida:
enão e a bomba que temos nas mãos?
A nossa opinião pública?
O nosso discurso livre?
E a nossa democracia?
Essa arma
que destrói governos, acaba com guerras, impõem condutas e sanções
e garante a paz no mundo?
Onde é que ela está?
Eu digo:
no bolso.
Até lá felicitamos o Kosovo pela sua independência
e pelos maus dos Sérvios terem ficado mal na fotografia,
independentemente do que isso quiser dizer.
Um comentário:
acho que o teu melhor texto, deste género*
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