segunda-feira, março 23, 2009

A guerra é como um antibiótico. Penso eu. Para atacar um problema, enfraquece as defesas que impedem a criação de outros problemas, surgindo portanto, ainda que devagar esses outros problemas. No final, acaba-se a tomar mais antibióticos.

domingo, março 22, 2009

pensamento ambulante de 26/2/2009

Ao passo que a tarde quebrava
ternamente durante horas em vermelho,
uma preguiça de gato caminhava
em ponta de almofadas rumo ao mais velho
sofá de convívio que conhecia abandonado;
entretendo os olhos semicerrados verdes
com a luz aos fiapos que atravessava
a grade de prisão que separava
a sua casa da sua liberdade.

sexta-feira, março 20, 2009

lie lie lie

ele fumava infantilmente um comprido cigarro, do tamanho da sua perna a meia haste, paciente. estava sem dúvida fora de jogo. um banco em quase tudo semelhante ao do futebol: via com a clareza e imparcialidade possíveis o jogo que rolava à frente dos seus olhos. posssíveis, não as desejáveis. via esses lobos de meio sorriso, escondidos na rectidão dos seus colarinhos de camisa, planeando a manada do futuro. via à sua esquerda, petiscando, palrando, a manada do futuro, longe de se saber tal, sequer. questionou se poderia estar errado, se algum daqueles palpites de ovelha pudesse um dia agigantar-se num qualquer destino social decisivo. mas não, não lhe pareceu. demasiada inocência: gigantesca força e fraqueza. ao fundo, camuflados no fumo da rotina e do churrasco, os homens comuns. os que afirmam posições, formam movimentos cívicos, marcam os golos da vitória que fazem subir de divisão clubes amadores, os que nunca vão deixar a família ir quando lhe deitarem na mão, em suma, os que rindo a rir, podem fazer coisas. e fazem. com a mesma naturalidade que não fazem. o fumo saía-lhes da boca como quem declama: ele cuspia o seu na esperança, sabia-no no fundo, de ser um dos deles. a verdade doía-lhe na perna: sabia que nunca o seria, nunca como o queria ser. nunca como eles eram. por isso não jogava. por isso o banco era o seu campo. viu entre os lobos e a fumarada quem ideologicamente se situava entre o homem comum e a comum manada. ovelhas com garras de lobo? sim. ele pensou nisso. percebia que não seria por mero acaso que acolhiam a manada com braçadas vigorosas no ar, balindo berrando e correndo, mas não se misturavam. a prova ali estava: à margem, aqueles dois exemplares pouco vulgares pensavam um com o outro. sem estratégias. ou cartas. líderes tribais de coração mole e honesto numa qualquer época enregelada do passado, ou do futuro que por vezes parece tão primitivo. à sua direita, desalentado, brandindo no queixo o último sorriso que uma pouca fresca última cerveja da noite tinha para dar, um rapazinho de um outro lugar, quase de outra história, quase de outro post de outra net, amansava a sua incompreensão com umas raparigas também elas à margem de todo aquele teatro, de cabeça baixa. cada um com seus olhos em cada seu chão, ele sentia-se irmanado daquele rapaz que naquele momento não o via, fosse do álcool, fosse do que fosse. à maneira própria de cada um, sabiam que aquilo era tudo a fingir. uma palhaçada. e que a melhor maneira de sobreviver àquele teatro feito de caninos ensanguentados era fugir. e ligar muito pouco e a muito poucos do que para trás ficasse e ficassem.

sábado, março 14, 2009

pimba & pré-pagamento


A Partir de Agora - Sam The Kid

matar primeiro, fazer perguntas depois

da pouca paixão que me trucidava
ainda luto com réplicas de respeito,
arrogantes cuspidoras de lava
à hora exacata em que me deito.

em que me deito tão firme e tão mole
em que finco dentes na almofada
e em que guardo sonhos no lençol
de uma noite mais que só, nua
eu lancei toda uma criança pelo abismo
como um cego guiado pela lua,
antecipando a morte por um sismo.

domingo, março 08, 2009

Sísifo

Recomeça....

Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...

- Torga

quinta-feira, março 05, 2009

the name of the game

"Is that what happens to us? A life of conflict with no time for friends... so that when it's done, only your enemies leave roses. Violent lives ending violently. Dollar Bill, The Silhouette, Captain Metropolis... We never die in bed. Not allowed. Something in our personalities, perhaps? Some animal urge to fight and struggle, making us what we are? Unimportant. We do what we have to do. Others bury their heads between the swollen teats of indulgence beneath a sow for shelter... but there is no shelter... and the future is bearing down like an express train."

- in "Watchmen"