"Deitei-me num lugar onde
havia amena névoa sedosos livros musical solitude
as portas uma a uma aferrolhadas
as janelas sem uma fenda por cerrar
lá de fora nem o vento nem a ira nem o dia
aqui só noite
só noite nos meus sentidos calafetados de usura
esperando o sono perfeito que há-de vir.
Música incensos livros o vazio pleno
finalmente o vazio pleno
a desabitação interior de um cérebro dissolvido
o sono a vir o sono a vir
quase liberto da vigília insuportada.
Mas no instante mais sublime
do refúgio anestesiador
me achei repelindo a música o silêncio os livros
o pavor do vazio pleno já dentro do sono sem nele estar
a cresta amarga esfolando-me a garganta asfixiada
os braços sem espaço os olhos espavoridos
e então num salto desferido e brusco
devolvo-me à esgazeada aragem
da rua tumultuada
onde deixo de ser ninguém
para ser nada"
- Fernando Namora
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