domingo, julho 18, 2010

Causa Perdida (pt.1)

"Tinha uma das mãos na arma,
A outra na cabeça,
Decidiu abandonar
A sua própria existência.
Tantos anos de luta, labuta,
Anti-depressivos na gaveta.
Em cima de uma pilha de livros
Resignado, sem nenhuma dignidade,
Num quarto degradado
Na baixa da cidade.
Poeta visionário com rima sublime,
O seu pai tinha sido assassinado
Pelo Regime.
Acende um cigarro, sentado.
Ex-combatente no braço tatuado
E pensa "já não vale a pena lutar"
Relembra num poema a sua mãe a olhar
No vazio, dois filhos para criar,
A chorar o seu amor que não iria voltar.
Mas a realidade voltou.
A dor apertou
O coração e foi aí que o gatilho soltou
O som...

Chamei-me teimoso, obstinado, persistente.
Caio e levanto-me, obcecado, resistente.
Sinto um certo magnetismo pelo abismo.
Cerro os punhos, lanço golpes de exorcismo.
Os demónios interiores permanecem vivos,
Tenho que os manter latentes, adormecidos.
Continuo suspenso na ponte do rio sem margens,
Com visões de um futuro passado em miragens.
Param os relógios, o chão desaba a meus pés,
Glaciais degelam, sobem as marés.
Convicto percorro o meu caminho com fé.
Apesar das vozes que sussurram "Desiste mas é!"
As multidões rezam a S. Judas Tadeu.
Eu movo dimensões quando venço o céu bréu.
Trespassado por mil sabres no momento derradeiro.
Estarei de cabeça erguida, sou guerreiro.

Contra tudo e contra todos,
Contra ventos e marés,
Lutas na causa perdida
Sem saberem quem tu és."


- Dealema

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