quinta-feira, outubro 28, 2010

Desfecho

"Não tenho mais palavras.
Gastei-as a negar-te...
(Só a negar eu pude combater
O terror de te ver
Em toda a parte).

Fosse qual fosse o chão da caminhada,
Era certa a meu lado
A divina presença impertinente
Do teu vulto calado e paciente...

E lutei, como luta um solitário
Quando alguém lhe perturba a solidão.
Fechado num ouriço de recusas,
Soltei a voz, arma que tu não usas,
Sempre silencioso na agressão.

Mas o tempo moeu na sua mó
O joio amargo do que te dizia...
Agora somos dois obstinados,
Mudos e malogrados,
Que apenas vão a par na teimosia."


- Miguel Torga

Um comentário:

Anônimo disse...

é por estas e por outros que Miguel Torga não é só Trás-os-Montes!