nesta nova espécie de Estado (Pós-Estado a que isto chegou): um Estado nada social, pouco democrático e do possível Direito, há extremos de opinião que nos deviam preocupar a todos. por um lado temos pessoas que não se coibem de arremessar pedras da calçada sem olhar bem a quem, sem parecer sequer saber bem contra quem se dirige essa agressão. entre o desespero, a vontade de responder com violência física à violência económica, puro vandalismo, auto-defesa, etc, cada um encontrará a explicação que julgar mais esclarecedora, ou só mais conveniente. quanto aos do outro lado da barricada, estão os que cumprem ordens, de superiores, de comités internos, de colégios externos, de um eleitorado (imaginado, suponho). destas bandas, o discurso é mais polido, menos inflamado (como se isso fosse sinónimo de razão), mais legitimador, paternalista, moralista. no fundo, a defender a sua bitola, e a sua sardinha na brasa. o que é inadmissível é considerarem-se situações em planos semelhantes. que alguém que arrisca um emprego, para se ir manifestar se tenha de sujeitar a levar um enxerto de porrada por algo que não fez, a ser gravado pelas forças de segurança ao arrepio de todas as demais garantias de privacidade existentes na Lei e na Constituição, seja privada das demais garantias de um processo penal, cuja abertura é fruto de décadas e séculos de luta contra o livre arbítrio das autoridades na aplicação da justiça. no fundo, só o facto de quem de Direito considerar que a força justifica alguma coisa, já parte em erro. e não fosse uma série de medidas tomadas noutras manifestações bem mais pacíficas, talvez não tivéssemos assistido ao escalar de violência que vamos assistindo (quem não se lembra dos jornalistas espancados?). um acto dum desesperado será sempre um acto dum desesperado. talvez devesse haver mais preocupação com a proliferação de desesperados. agora se as forças de segurança são geridas por desesperados, e o Estado de Direito é um Estado de Sítio, onde vale tudo, e ninguém nos alertou, então não há troika, nem renegociação da dívida que nos salve, pois estamos entregues ao pior da bestialidade que há em nós sem nenhuma razão ou serenidade que a encabece.