quinta-feira, julho 27, 2017

the privilege of making the wrong choice

"Mesmo com um corpo de atleta como Dubcek, somos sempre fracos quando confrontados com uma força superior. Sentia-se subitamente atraída por essa fraqueza que então lhe parecera insuportável, repugnante, e que a fizera deixar o seu país. Compreendia que fazia parte dos fracos, do campo dos fracos, do país dos fracos e que lhes devia fidelidade precisamente por serem fracos e tentarem tomar fôlego no meio das frases."

Milan Kundera, "A Insustentável Leveza do Ser"

quarta-feira, julho 19, 2017

o paradoxo da corda do elefante sem corda



(é o tempo e a falta dele. são as constipações no verão. a porção de cansaço em proporção ao tempo livre. as paixões no desamor. o oásis no deserto. não fazem sentido, mas são de peremptória compreensão e superação. bónus: extenuam, sem esforço algum.)

sexta-feira, julho 14, 2017

sticks and stones & the broken bones

"O sonho não é apenas uma comunicação (e eventualmente uma comunicação cifrada), é também uma actividade estética, um jogo de imaginação que tem um valor próprio. O sonho é a prova de que imaginar, sonhar com o que nunca existiu, é uma das necessidades mais profundas do homem. Essa é a razão do pérfido perigo que se oculta no sonho. Se o sonho não for belo, podíamos esquecê-lo depressa."

Milan Kundera, "A Insustentável Leveza do Ser"



"That fool who digs his own grave
I'm still trying to find my way out!
But if it's the long way
I'll sleep in this bed I've made

The kids have fallen on blades
It's too late to figure out
It's too late for babies to beg for their beds"

segunda-feira, julho 10, 2017

give your life so I can breathe

"Tereza não só se parecia fisicamente com a mãe como, por vezes, chegou mesmo a ter a impressão de que a sua vida não foi senão o prolongamento da vida da mãe, um pouco como a trajectória de uma bola de bilhar é o prolongamento do gesto executado pelo braço de um jogador."

Milan Kundera, "A Insustentável Leveza do Ser"


quinta-feira, julho 06, 2017

paranóia, paranóia

cresce a minha intolerância com os "jeitos", os "arranjos", e as "conivências". a sua mera possibilidade provoca o meu ranger de dentes, levantar de sobrolho e rosnar de impropérios. a visão de três ou quatro casas, umas em cima das outras, com portas e janelas em cima da estrada, num quelho qualquer arrepia-me os pelos do pescoço e cheira-me a cunha. a construção de uma rotunda com duas saídas e um mamarracho de ferro ao meio é encarada com um insulto à pessoal. cada árvore abatida solitária num jardim, ou fuzilada em grupo num monte, para mim são clareiras, a crescer viralmente, quais buracos de bombas em cidades em guerra. e em cada nomeação, em cada contrato, em cada programação eu vejo uma intenção e um cheque que lá não devia estar, e o denominador comum de prejuízo a longo prazo, que foi conscientemente calculado pelos especialistas (provavelmente, primos, tios, ou sócios de quem os encomendou). assim, com o avançar da idade, a minha visão apodrece. o problema é meu que antes via bem, e não via estas relações inimagináveis. ou sentia este sufoco, esta abafada ameaça de trovoada.

"I've got this epic problem
This epic problem's not a problem for me
And inside, I know I'm broken
But I'm working as far as you can see

And outside, it's all production
It's all illusion, set scenery
I've got this epic problem
This epic problem's not a problem for me"