Os tiques marcam as minhas frases como sinais de pontuação, em movimentos ásperos de quem tem a mão pesada. Rodaria anéis nos dedos se os tivesse. Como o Paulie! Eu não sou o Paulie, mas às vezes sinto-me como o Paulie. Faço-me entender? Sobretudo, quando atravesso sozinho a paisagem suburbana e desinteressante da minha cidade natal, que me viu nascer e há de ver morrer, como homem da velha escola que sou. Na tentativa de marcar posição, tento destacar-me na forma mais astuta que consigo. Seja no estilo, ou na ausência de misericórdia. Para dar uma lição a qualquer um. Acredito que investir num imagem própria, com personalidade, ainda que de gosto duvidoso, me fará parecer respeitável. O xunga há de ser o novo fixe. Senão, até um relógio parado acerta duas vezes por dia. . Além disso, gosto de ser o street wise guy, de quem ninguém faz farinha. Porreiro para toda a gente, com a frase simples mais assertiva e universal na ponta da língua. Mesmo os homens humildes aspiram a filósofos. Tento chegar ao fim dos meus dias de costas direitas, zelando pelos meus, fiel aos meus princípios e a um certo modo de estar, que pode ser incompreensível, mas que me restaura a fé na ordem natural das coisas. Essa estabilidade, segura o barco quando é necessário abaná-lo, ou fintar as próprias regras. Ninguém vive feliz sendo um cínico, mas sendo aldrabão vai-se vivendo a felicidade possível. Tenho isto em mente para ponderar o suficiente, mas não hesitar demasiado. Está tudo sob controlo. Até me olhar ao espelho. Ou olhar para trás. Ou olhar em volta. Apercebo-me de que ninguém vê um homem respeitável. Ninguém vê alguém implacável, ou de bom coração. Apenas alguém regular, fiável enquanto for útil, porque previsível. O que o denuncia automaticamente quando mente. Por isso nunca vai mentir, e se o fizer é apanhado, e manipulado outra vez. No fundo, apenas vêem um puto irrequieto e assustado. Que conta piadas, atrás de piadas, para se sentir relevante numa dialéctica social que não domina.
Sem dúvida, sinto-me como o Paulie. Pelo amor de Deus, nós até vastos cabelos brancos temos como imagem de marca!
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