quinta-feira, julho 05, 2018

cold light of morning

O despertar e uma certeza clara como um relâmpago. Um "no ínicio era o Verbo", particular, a erguer-se determinado e seguro como a ideia que madrugava: ela promete amor mas não te ama. É tudo mentira. A luz do dia espraia-se sobre os seus tenebrosos contornos, desmascarando o truque. Antevê-se a vitória, a excitação aumenta.
Em simultâneo com a clarividência de ideias, o corpo arrasta-se, em resposta a estímulos obscuros, como o sexo e o sono. Reduzido a instintos de sobrevivência, empurra-se para a casa-de-banho, para a cozinha, para o trabalho. Para a próxima conquista. Naquele dia, o corpo acordou sem a mente. E a mente viu-o, particularmente, animal.
Mas o dia, como os homens, segue o seu caminho. Amadurece. E cansa-se. Com as horas, aproxima-se da noite, e a penumbra volta a envolver as ruas iluminadas do futuro. Aos poucos, corpo e mente, diluem-se outra vez um no outro.


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