Uma rima não é o meu mambo.
Eu vivo para cantar, mas não sambo.
Todo o esforço é inglório quando
És um escanzelado com uma fúria de Rambo.
Uma rima no tempo da adolescência
Era a arma para vomitar a essência
Do que nem às paredes gritava. Paciência!
Hoje calo-me por conveniência.
Quem é que quer enfrentar demónios todo o dia?
Chapar no espelho uma cara que não dormia
E não mostrar a mais ninguém, por simpatia?
Fica sempre na gaveta a melhor poesia.
Eu escrevo esta letra por medo.
Falo demasiado para poder guardar segredo
De ser figurante nesta vida
Protagonista do meu degredo.
Rimar de punhos bem fechados: é a cena.
Vociferar contra o Estado
Como se fosse culpado
ou se o Estado fosse a cena.
Engrandecer o inimigo
Para enobrecer a sua queda.
Mas quando eu combato, meu amigo,
É para continuar na merda.
Para carregar o peso duma luta sem sentido.
Ou a de todos aqueles que estão a contar comigo.
Em cada passo em frente, sinto o peso desses mundos.
Tenho de me rir se me vejo como o Atlas de Milhundos.
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