eu nado, como corro, como penso, como falo: a eito. os destroços dos obstáculos emaranham-se nas minhas articulações quando os atravesso. por essa razão as tenho todas fendidas. consigo adivinhar o mau tempo de amanhã, e arrasto comigo essas correntes auto-infligidas. ao quilómetro 10 já percebi que é difícil acompanhar-me com este peso. homens e mulheres mais inteligentes do que eu foram-me abandonando pelo caminho, e ora são felizes em corridas mais personalizadas. à minha vista desarmada. o meu percurso recto e inexorável amplia-me a visão lateral, e não me furto de olhar. é como uma droga. mais detritos se enredam nos meus passos. a herança é pesada. eu torno-me um obstáculo em mim mesmo, que não consigo ultrapassar. como é que alguém salta por cima de si próprio?
mas vou no quilómetro 10. nunca aqui tinha chegado. nunca tinha sido este eu. o tempo amanhã pode ser diferente daquele a que o meu corpo me condenou. há de haver algum sentido nisto tudo. os heróis ainda não foram todos inventados. estupidifico. mais vale não saber. só me dói a mim e não ao universo. ignoro. menos é mais.
prossigo.
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