sexta-feira, dezembro 11, 2009

fogo posto

um fogo fora de controla bebe toda a água que lhe atravessa no caminhão. sofrego, e chorão, cambaleia florestas fora, galga casa, pisa crianças e mulheres. dentro de si: um inferno que não arrefece. à sua volta: um gelo de noite que não o amedontra. e pequenos bombeiros, tementes a Deus e com pena desse fogo, bombeiam àgua à moda antiga, por mangueiras ínfimas, para o calar. o fogo sente essa água a ir directa ao seu coração. julga até que as mangueiras são as suas veias que batem. mas não são. a sua sede não cede. as suas lágrimas chamuscam o céu negro, gelado como cristal. os moradores morarão ao relento. o mundo vê-lo-á arder lento. o fogo chorará sangrento uma noite de trovões e o firmamento desabará uma chuva de cimento que só fará o fogo mais torpe e mais gigantesco.
ele deriva de si mesmo e multiplica-se. chamusca os pobres homens que o alimentam. e acarinham.

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