terça-feira, dezembro 29, 2009

Luso- Brasileiro

Eles chegam cá de folheto na mão e nome na ponta da língua. O discurso está ensaiado pelos seus antecessores, como eles, trazidos pelas mãos da fortuna (ou falta dela) àquela praia primordial: vieram para ficar. Para sonhar. Fazer sonhar sonhar. Suar os trapos que trouxeram consigo de um mundo tão admirávelmente e imenso novo que os apanhou num dia mau. Eles chegam para provar que são melhores que todos os outros. Mais eficazes que todos os outros. Mais leais. Mais esforçados. Mais milagrosos. Mais fantásticos. Que todos os outros... como eles. E no fim só não trepam mundo velho adentro se não puderem, pois não há prego que pregue uma língua a uma praia, que é mais um deserto, para sempre. E lá seguem. Os mesmos folhetos, as mesmas juras, os mesmos sonhos. Mudam os olhos que passam a ser mais atentos do que desconfiados.
E há os que ficam. Que por insondáveis razões do destino ficam. Ou pior: voltam. Voltam da sua fracassada segunda odisseia e convencem-se que os pés não devem correr com semelhante emoção mais do que um oceano, a menos que o corram outra vez para casa. Deixam-se tombar vencidos nessa praia, de cocos ressequidas, bananas mixurucas, olimpo de pés de barro, aonde eles tentaram fazer-se deuses de pés de pedra e pouco mais foram que joguetes testas de ferro. Mas que por insondáveis razões do destino ficam. E ficar às vezes também dá direito a ser mito. Por muito pequena e seca que seja a praia.

Um comentário:

D. disse...

:)