acendia cigarros com o rastilho aceso do cocktail molotov, que perdida a utilidade, era arremessado por cima das costas em direcção ao fogão. entornava garrafas de whisky velho com o pé direito para cima das feridas abertas do pé esquerdo: andar descalço em cima de telhados de vidro partidos já não era tão boa ideia como o era há uns anos. na televisão, via a propaganda, de cores bem definidas, vivas, as imagens a marcharem mecânicas, épicos hinos populares reverberando no sistema de som. pegava em facas e tentava abatê-los a todos, à vez, sem muita sorte. apercebera-se de dada música, longínqua das colunas, implícita ao seu canal auditivo, escarninha como convinha a vozes mesquinhas de parlamento de pobres, mas ensonada como a voz dum guerrilheiro sem sopa de legumes à noite, porque a família foi toda morta à tarde. parou uma faca a meio caminho do lançamento do seu braço. calculou melhor a distância. enfiava a dita faca pelo ouvido, para fazer riscar a música e repeti-la e repeti-la e repeti-la e repeti-la e repeti-la
2 comentários:
temos de repensar o nosso projecto literario. as tuas palavras ilustradas pela minha mao esquerda.
gostei joaquim
arrisco dizer que é um dos melhores textos teus dos ultimos tempos. nem vou dizer nada, que é cócó.*
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