o velho era tacanho. não percebia o porquê de partir. tinha a sachola bem assente na terra. o solo, médico incompetente, não soubera, no momento certo, cortar o cordão umbilical como mandava o bom senso. à época era prática comum, mas com dias contados. o velho era tacanho. nunca percebeu o porquê de não se afastar por cruzamentos: preferia as rectas, para ser mais fácil voltar, e mais fácil para servir-se do cordão como novelo guia. viu filhos da fortuna tentar a sorte e maldisse-os. viu apaixonados quebrar telhados de xisto e tentar voar e gozou-os. viu todo um mundo de atrocidades, nos sucessivos jornais e aparelhos que a câmara rápida do tempo fazia suceder em evolução diante dos seus olhos, e achou-o justo. deu graças aos céus, porque em Deus não acreditava, por ter a sachola bem assente no chão. quando foi levado a enterrar pelos serviços camarários, no baldio junto com as galinhas e os coelhos de que se alimentara em vida, na lápide fez-se constar "aqui jaz uma pessoa".
4 comentários:
isto abriu a caixa de comentário do blogue errado. peço desculpa :p
Gostei muito *.*
Vou seguir (:
obrigado :)
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