Ok. Eu sei que é politicamente correcto ser contra os dowloads ilegais ou contra a partilha gratuita de ficheiros. Que há um sem número de motivos racionais, económicos e sociais para os condenar, ao passo que, do lado oposto, existem argumentos mais, digamos, subversivos, e como tal, mais facilmente ignorados. Porém, eu sou adepto do "tanto quanto possível para o máximo de gente possível" e sempre achei criminosos os preços cobrados para alimentar uma cultura dita popular. Cultura, auto-assumida como indústria. Cultura renomeada como entretenimento. E se vivemos numa época dourada em que, como nunca antes, existe tanta gente a aceder a tanta oferta cultural, dependendo apenas da sua persistência, paciência e imaginação, óbvio que me dá um pequeno arrepio na espinha a possibilidade de ver esta época de partilha acabar afim de que homens muito, muito ricos, fiquem apenas muito ricos.
Quando a França aprovou uma lei que multa quem fizer dowloads de ficheiros partilhados na web, com a penalização de ficar ser acesso à web, tremi. Pensei (e, a bem dizer, ainda penso) que é uma questão de tempo até mais países europeus lhe seguirem o exemplo. (Um pequeno apontamento para a aironia desta medida ter sido lembrada na pátria das liberdades individuais). Porém, este revés em Espanha acho que aliviou um tanto a pressão do cerco. Já havia sido dado outros sinais, como a eleição de um deputado do Partido Pirata Sueco para o Parlamento Europeu.
Talvez o Keene Act ainda esteja para vir...
10 comentários:
A maioria das bandas acha muito bem que se saquem os cd's da net, desde que depois encham os concertos xD já ninguém tem pachorra para aturar os tipos das editoras que enriquecem à custa dos músicos.
andaram décadas a vender gato por lebre e a fazer muito dinheiro á custa de quem só conseguia ouvir a música que gostava comprando os álbuns. por isso, não tenho pena nenhuma. o bethoven também não tinha produtor, e de certeza que não foi a pirataria a atrapalhar-lhe o génio
Daniela, o que disseste não corresponde, de todo, à verdade...
Algumas bandas (longe de ser uma maioria, muito longe mesmo), acha muito bem que as pessoas possam comprar um álbum na internet, pelo preço que entenderem (como fizeram os Radiohead). E algumas bandas também acham muito bem disponibilizar livremente o álbum para audição (apenas audição) na internet, para que depois, se o ouvinte gostar, o possam comprar (os GNR estão a fazer isso, por exemplo).
Há ainda um outro grupo, que me parece a mim claramente minoritário - e com isto não estou a elogiar ou a criticar a posição, apenas a constatar uma realidade que me parece indesmentível -, que acha muito bem que todos possam descarregar livremente, sem mais, os álbuns da internet. Lembro-me de ler um entrevista do Manel Cruz ao Jornal Tribuna em que ele dizia isso mesmo, embora numa lógica "saca-cem-ouve-e-depois-compra-os-30-que-mais-gostaste".
A maioria das bandas entende que descarregar um álbum da internet é o mesmo que ir a casa de um escritor, apoderar-se dos seus escritos guardados numa gaveta e lê-los tranquilamente em sua casa.
Pensar que a questão se baseia tão-só na ganância lucrativa das editoras é um ponto de partida, a meu ver, completamente errado. Há muitos e muitos artistas que consideram um download como um verdadeiro roubo. O problema não é só jurídico. Tem profundas atinências com a criação e liberdade intelectual e espiritual. E já todos sabemos onde começam e acabam as liberdades...
Um abraço aos dois,
Francisco.
peço só desculpa por alguns erros de concordância, mas escrevi o texto à pressa!
Francisco
só mais uma coisa!
Há ainda os que fazem da internet o seu meio próprio de divulgação, assumindo o download gratuito como o seu instrumento normal de promoção e fidelização de consumidores - é o que acontece, maciçamente, no hip-hop, onde todas as semanas há ep's e mixtapes para download nos myspace.
Mas isto é outro campeonato.
cada banda/estilo de música lida com o seu marketing de uma forma própria. indo a concertos de punk, hardcore ou metal, fora dos grandes circuitos, vês as bandas a vender os seus cd's e merchandising e sabes que aquele dinheiro vai directamente para a banda. que se trata de uma luta diária para amealhar o máximo para a próxima vaga de t-shirts ou para um novo álbum. de que estão dependentes essas bandas, se quem as for ver não souber quem são? apenas de dar um bom concerto.
o manel cruz tem razão. "saca-cem-ouve-e-depois-compra-os-30-que-mais-gostaste". mas se eu não sacasse cem, comprava trinta? compraria os cem? e por falar em manel cruz, até dou este exemplo, ornatos: dou graças a Deus ter arranjado cópias de ornatos violeta quando andava no secundário, pois fizeram parte da banda sonora da minha vida daquela altura, e sei que vão fazer para sempre. por isso comprei um album de ornatos, estou a ver onde consigo o outro, e comprei o "Foge Foge Bandido" convencido de que ia ser uma edição limitadíssima. e não é de todo dinheiro que chore.
eu não posso falar contra a partilha gratuita de música quando ela me fez conhecer, directa ou indirectamente, uma enormidade de música sem a qual, hoje, não me imaginaria. e sem a qual não contribuiria com metade do que contribuo. e sei não ser o único. porque quem gosta de música quer ter os álbuns, quer ter o merchandising, quer ir a concertos: é assim. ficheiros no computador não chegam.
óbvio que esta lógica se subverte porque há muita gente que é ensinada numa lógica de "vou ouvir tudo o que me apetecer e não vou estar a gastar o meu dinheiro, porque não faz sentido". falta essas pessoas aprenderem que, tal como disse o abrunhosa, uma pessoa paga o justo preço de uma maçã que a vai saciar naquele momento, porque não há de pagar o preço justo de uma música que a vai acompanhar a vida toda?
talvez não vá, e aí entra o problema de música produzida em massa, com cd's a € 20 e € 30 com superstars que meio ano depois ja ninguém sabe quem são.
e o problema é que quem mais batalha contra a "pirataria" é quem tem mais a perder (grandes artistas, grandes editoras) e não, quem tem de se fazer valer. julgo que não será assim uma maioria de bandas e/ou pessoas como dizes francisco, honestamente.
Mas as formas de “fazer dinheiro”, esse merchandising de que falas (t-shirts, pins, venda de cds em concertos, etc.), não invalida, de todo, que o artista ganhe dinheiro por aquilo que produz – música, discos. Vamos lá ser claros: o artista, se o é, produz. E se produz, deve ver o seu talento, o seu esforço, reconhecidos. Isto é universal, serve para qualquer profissão. Não se pode distorcer a realidade das coisas só porque estamos a falar de música!... Fazer música não é brincadeira! É uma actividade profissional como outra qualquer, e como tal deve ser remunerada nos mesmos termos. Há alguma dúvida sobre isto?
Depois há outra questão, meu. Acho que há aí um vício de pensamento que leva a conclusões erradas. É o de associar a posição de defesa dos downloads gratuitos a músicos “fixes” e “simpáticos”, de um lado, e a posição anti-downloads a superestrelas mainstream das grandes editoras discográficas. Isto é, na minha modesta opinião, puro preconceito.
Eu penso que é absolutamente legítimo qualquer artista, bom, mau, underground, mainstream, alternativo, comercial, reclamar para si os dividendos do seu trabalho. Tão simples quanto isso. E por isso é que quando dizes que quem mais batalha contra a pirataria é quem tem mais a perder, eu não vejo que sentido isso tenha. É uma questão quantitativa?! - de quantificar quem perde mais e menos? Só é legítimo rebelar-se contra a pirataria quem perde menos? Não vejo sentido nisto…
Tanto o artista que tem tripla platina como o artista que tem uma maquete para os amigos, ambos são os artífices do seu trabalho e devem ver o seu esforço recompensado. A ambos deve ser garantida a protecção do seu trabalho. No caso dos downloads, a situação é particularmente grave porque, no exemplo do escritor que apontei num comentário anterior, não só quem se apossou dos seus escritos os vai, contra a vontade do seu autor, ler, como, pior, os vai fazer circular pelos amigo da escola como por um indivíduo sentado numa cadeira no Japão.
Ainda que a moda de hoje pareça ser a de evitar o termo, eu vou usá-lo: eu entendo e apoio todos aqueles que reivindicam a “propriedade intelectual” sobre a sua obra. Da mesma forma que compreendo artistas como o Manel Cruz, para quem isso não faz sentido, e o sentido (no fundo, o sentido da arte) esteja na partilha e na troca. Mas então, quem pense assim tem boa solução: produz e depois é o primeiro a colocar directamente as coisas na net, ao que a seguir fará uma divulgação intensa. Porque é que, com a excepção daqueles casos de que falei acima, com especial incidência no hip-hop, não vejo ninguém a fazer isto?
Volto à ideia inicial: a música é uma actividade profissional como outra qualquer, que exige esforço e dedicação de quem a faz e que, por isso, deve ser recompensada. Por que raio de motivo os músicos não poderão viver do seu ganha-pão? Por que motivo terão eles que, cumulativamente com a produção de discos que levam anos e anos e muitos sacríficios à mistura, ter que andar a fazer mais e mais concertos, mais e mais tshirts, para ver o seu trabalho rentabilizado? O músico, quer queiramos ou não, para o bem ou para o mal, já não é, como estupidamente se entendia em tempos, uma ave rara que não quis ser advogado ou médico. O músico é um profissional (mau ou bom, há-os em todas as profissões).
(continua)
(tive que dividir os comentários porque o blogger não permitia tantos caracteres num só comentário)
E repara só mais numa cena.
“eu não posso falar contra a partilha gratuita de música quando ela me fez conhecer, directa ou indirectamente, uma enormidade de música sem a qual, hoje, não me imaginaria”.
Repara como partindo de uma lógica “comunitarista” e altruísta de livre partilha, se alcança um resultado que é puramente individual, pessoal. Que tem o artista que ver com a minha formação pessoal graças aos downloads gratuitos que eu fiz dos seus álbuns?
Sinceramente, se é certo que hoje temos acesso a uma quantidade maciça de música, penso que simultaneamente se dá cada vez menor valor à experiência de “ouvir música”, de ouvir um disco do princípio ao fim e apreciá-lo verdadeiramente. O que vejo hoje é uma cultura imediatista, descerebrada, em que se ouve um álbum de reggae e se escreve no facebook que o Bob Marley é o nosso artista favorito, para depois, passado umas semanas, se substituir por The XX ou outra coisa qualquer.
Desculpa estar para aqui a escrever tanta coisa.
Um abraço,
Francisco
estás à vontade para escrever o que entenderes até porque o tema é fracturante.
o músico tem o direito de recolher os dividendos do seu trabalho? sem dúvida alguma. agora se a indústria não reclamasse para si créditos de hypes feitos em laboratório e inclusive de tentativas de controlo do processo criativo talvez bandas como radiohead, pearl jam, nine inch nails, entre muitas outras, estariam gratas à industria discográfica ao invés de fugirem dela a sete pés à primeira oportunidade.
de resto a ideia de "amar demasiado a música para viver dela" não fui eu que disse, foi o carlos paredes. a ideia de que temos de aprender que o músico pode ser tanto o advogado como o padeiro, porque existe música em todo o lado também não: aprendi isso com o maynard james keenan. fazer música não é brincadeira, não senhor. agora, na minha opinião a internet pôs em cheque quem lucrava indevidamente com a música, mais do que os músicos em si.
quanto ao que chamas preconceito estás enganado. obviamente falo com base no que observo, das posições que vejo a ou b defender. sabes porque, eu pelo menos, não vejo músicos underground, ou com passado underground recente a defender o fim da partilha ilegal de música? porque têm a ganhar ao vivo! porque as pessoas que os descobrem na net (não só através de downloads, porque existe o myspace e etc, mas não é disso que estamos a falar) vão aos concertos, compram os cds, reconhecem o valor à banda. achas que os fonzie esgotam salas no japão á custa de quê? da fnac lá do sítio? não sejamos cínicos. rebela-se contra a pirataria quem não gosta dela, simples: seja por interesse seja por princípio.
o exemplo do escritor é bom, porque ainda é mais difícil de controlar a cópia. mas nós não fazemos citações? não tiramos cópias de livros ou revistas de textos que gostemos ou admiramos? eu se chegasse ao outro lado do mundo e descobrisse um gajo que se deu ao trabalho de pegar nalgo publicado por mim, traduzi-lo e difundi-lo eu ficava babado, não contava os tostões que podia ter posto a render. talvez ficasse incomodado se esse processo fosse maciço, e aqui dou a mão á palmatória. mas ora pensa: se fosse um negócio assim tão avassalador, não haveria outras estratégias de ir buscar o retorno financeiro, que na minha opinião, não pode em circunstância alguma condicionar a produção artística? censurar as pessoas que admiram o que eu faço também não me parece a abordagem correcta.
quanto á cena de “eu não posso falar contra a partilha gratuita de música quando ela me fez conhecer, directa ou indirectamente, uma enormidade de música sem a qual, hoje, não me imaginaria”. eu admiti desde logo que é uma lógica que é facilmente subvertida, porque as pessoas se acomodam e quando não amam a música não estarão para perder dinheiro com ela. mas eu não abdico da minha ideia. sem downloads, cópias piratas, etc, eu não me sentiria tão completo musicalmente. nem muitos dos músicos que hoje são referências. a questão da pirataria remonta ao tempo das cassetes, só que os circuitos eram mais restritos.
quem gosta continua a gastar muito dinheiro com música e agora há mais gente a gostar, não há hipótese. e gente mais ecléctica.. se há gente que gosta de bob marley num dia e the xx no outro? é a vida. também não gosto de gente que idolatrava ratm's e tool's e agora é toda david guetta e afins. mas mesmo que haja menos gente a comprar álbuns há que admitir que há muito mais gente em concertos, que não são propriamente baratos.
(continua)
repara só nisto: eu acho que os artistas devem receber os frutos do seu trabalho. não por serem profissionais mas por serem artistas, artesãos, o que for. porque foram eles que fizeram, não terceiros. agora a música enquanto indústria foi vítima do próprio sucesso. consome-se muita música porque há muita música que não o é, mas porque há muita gente para pagar e muita gente para consumir e não ouvir.
acho que as coisas vão mudar. espero só que não se regrida mais que o necessário porque se tenho de me limitar a descobrir música pela rádio ou pela mtv acho que deprimo. embora a música em streaming esteja a ganhar muito peso, porque é uma boa alternativa. também porque há muita gente com álbuns no pc que a disponibiliza online. é um bocado pescada de rabo na boca, mas pronto.
Abraço
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