sexta-feira, julho 29, 2011

diz-se que não se deve voltar aos sítios onde se foi feliz. eu tive o prazer (e a angústia) de viver num desses sítios. não sei se será legítimo chamar-lhe casa, ou lar, ou cubículo (ao qual me confinei), ou até mesmo residência: prefiro recordá-lo como uma república. de homens livres, simples e bravos, claro. deixo um retrato na parede e um graffiti no interior da gaveta de uma secretária a marcar a minha passagem, por muito anedótica que surja aos olhos dos indiferentes que com ela se depararem. o que é verdadeiramente triste, mais do que a partida em si, é perceber que fomos partindo aos poucos com aqueles que nos ligavam a sítios como este e foram partindo antes de nós, um após um, para o desconhecido, para o silêncio da distância. no fim, na hora derradeira de arrumar a última mochila, já não nos sentimos mais que um bibelot, um troféu nocturno a ocupar espaço demais na arrecadação. apesar da tenra idade, sentimo-nos velhos e a ocupar um lugar que já não devia ser nosso. na verdade, considero que o árbitro do pau-bola da vida já apitou para descontos há muito, muito tempo. tanto tempo que parece que foi outro a jogar em meu lugar. e o tem vindo a fazer. durante estes últimos meses. e ao longo de todos estes anos. mas o conceito é dinâmico, mais inovador do que propriamente social: primeiro é mero poiso, depois casa, depois casa de férias e por fim será como a casa dos pais, que visitamos com a família de longe a longe, muito longe a longe, para ver se está tudo no sítio, se os putos do antigamente já fazem a barba em condições, se o outro atadinho já bebe uns copos com o pessoal, e se, apesar de já não ser nada da nossa conta, ainda se é feliz nesse lugar. pelo menos, o mesmo que eu fui em tempos.

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