Quando falas, não entendo nada.
Olho em volta, e todos os outros, sentados como eu, olham para ti cirscunpectos, acinzentados. Parecem atentos, concentrados, executando quase na perfeição uma coreografia macabra de impavidez, ao som da banda-sonora da tua voz. Olho em volta, não entendo nada.
Tiro a tampa da caneta, volto a pô-la. Remexo a caneta na mão, tiro a tampa da caneta, sarrabisco as folhas brancas dos apontamentos, volto a pô-a. Simulo uma bateria muda com os pés, foco os olhos nos movimentos dos teus lábios, cantarolo uma canção dentro da boca, espero que me elucides. Mas não entendo nada.
Tu partes de pressupostos correctos. A tua análise é assertiva, e as tuas conclusões abragentes. Por isso, a culpa terá de morar na tua exposição. Ferida de morte com a gangrena do fastio. Olho em volta e não quero ser nenhum dos outros, que estão sentados a ouvir-te como eu. Olho para ti, e espero luz, mas apenas acendes velas, com a maior tranquilidade, no meio da trovoada da meia-noite.
Continuas a falar, mas não entendo nada.
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