sexta-feira, setembro 28, 2012

só em sonhos



"Recordo aquela noite

O meu sonho alucinado
Só sei que o meu desejo
Era não ter acordado.
Em dois mil e quatro
Euro a bombar,
Era rei dos estádios
Iam lá pra me apoiar.
Gritavam por mim
A sua salvação
No país em convulsão
Era ás e campeão
Garinas o guito
A fama e o sucesso
O caso exemplar
No país do retrocesso

No meu sonho era o Figo
Tinha o guito e a modelo
No centro de emprego
Acordei pro pesadelo

Não jogo no Real
A conta está a zero
Mulher de bigode
A meu lado, o pesadelo.
Sem contrato milionário
Ou Euros pra beber
No Portugal afundado
Só me resta é morrer.
Não entro no estádio
Nem um jogo posso ver
Carreguei muito cimento
Ajudei-o a erguer.
Vida sem dinheiro
Filhos pra sustentar,
De repente acordo
O jogo vai terminar

No meu sonho era o Figo

Tinha o guito e a modelo
No centro de emprego
Acordei pro pesadelo."


P.S.: Sonhos que nem às paredes confesso (estão num túmulo de cimento que o meu subconsciente chapou no tecto), dão felicidade de beber uma noite inteira, deixam o passado em estado de bebedeira, com uma felicidade nostálgica que nunca existiu, e que os nossos ossos, tristes, sabem que não existirá nunca mais.

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