sexta-feira, julho 26, 2013

casa de cartas

nem o teu estatuto de animal enjaulado aprisiona o brilho das tuas cartadas. deixas os visitantes na dúvida de se tratar de mero show-off, mas a ti nada disso te incomoda: vives bem com áreas cinzentas. formado na escola da vida, tiraste mestrado na nobre arte de as manipular, expandir e deslocar em função das tuas conveniências. quem te visita vê um condenado, pela própria essência, a definhar e morrer sozinho: é o que acontece aos animais selvagens em cativeiro. quem te alimenta não compreende o porquê de morderes a mão que te alimenta, enquanto a porta de saída, 24 horas por dia, está aberta.

segunda-feira, julho 01, 2013

Juno

aquela mãe, jovem como as nossas mães, percebeu tudo pelas unhas do ser concebido: tinha unhas, logo existe. as nossas mães, então jovens, quase crianças, perceberam isso numa epifania de maturidade, e não tiveram medo: deixariam ser, crescer. como unhas. mas as mães, na candura do seu amor, não percepcionam para além desse ser, e do tal crescer. porque ao ser, cresce, ao crescer embate. choca quando se pontapeia paredes em raiva. entorta quando vicia, como os jogos, empena e fica para sempre assim. adoece, escurece, enruga, amedontra. morre. mas nunca pára de crescer. mesmo embatida, chocada, pontapeada, torta, viciada, empenada, doente, preta, enrugada, medonha, nunca pára de crescer. e quando morre, renasce, com esperança, mas já morta. sempre morta. sempre condenada. as mães não sabem que o fim é quando se desaparece, e que, como as unhas, andamos mortos, muitas vezes, antes do final desvanecimento.