segunda-feira, junho 20, 2016

"fiz o que tive a fazer e pus-me a pau com a guita"

acorda nu num porão de breu. o espaço que o rodeia é preto, as fronteiras que o contornam são pretas, mas ele sabe que é preto também. rasgos de luz pelo tecto cambaleante fazem-no duvidar se é tão preto como tudo o resto. são como relâmpagos do ilustrador universal de bd a contornar a realidade com a sua inspiração em sin city. ele consegue aperceber-se da sua própria individualidade, graças a esse golpe de génio plagiador, ao capricho desse clonador. vê-se a reflectir sobre se é tão negro quanto tudo o resto e todos os restantes. não consegue definir, porém, se, como tudo o resto e todos os restantes, é um escravo.

sexta-feira, junho 17, 2016

queres escrever poemas? mas poemas não se escrevem sem coragem


"Que estou a fazer aqui numa tarde de verão? Quem sou eu, aqui sentado, com sono junto ao filho da mulher que tive ontem à noite?"

Yukio Mishima, "O Marinheiro Que Perdeu as Graças do Mar"

terça-feira, junho 07, 2016

não é meia noite quem quer

"Com aquele olhar pensativo prometia observações profundas ou mesmo uma declaração apaixonada, mas em vez disso tinha iniciado um monólogo sobre folhas verdes entrevistas pela porta da cozinha de bordo e balbuciava uma história da sua vida sem interesse nenhum, que desembocava num refrão horroroso duma canção popular! Contudo, aliviava-a saber que que ele não era um sonhador, dava-lhe confiança aquela simplicidade, uma qualidade sólida, de móvel pesado e antigo."

Yukio Mishima, "O Marinheiro Que Perdeu As Graças do Mar"

sexta-feira, junho 03, 2016