sexta-feira, julho 29, 2016

"basta-me respirar de vez em quando"



"Cidade suja, restos de vozes e ruídos,
Rua triste à luz do candeeiro
Que nem a própria noite resgatou."

Sophia de Mello Breyner Adresen, "Poesia"

terça-feira, julho 26, 2016

E nunca as minhas mãos ficam vazias.

"Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão
A força dos meus sonhos é tão forte
Que tudo renasce a exaltação.
E nunca as minhas mãos ficam vazias."

Sophia de Mello Breyner Andresen, "Poesia"


terça-feira, julho 19, 2016

A Lenda


"Eu podia ter sido um homem que partiu para sempre. Tinha-se cansado e agora, lentamente, começava a acordar para a imensidão do que abandonara.
As escuras paixões das marés, o mugido de uma onda, a avalanche das vagas quebrando-se contra um recife... uma glória desconhecida chamando-o incessantemente da negrura do alto mar, era a glória confundindo-se na morte e numa mulher, a glória de fazer do seu destino uma coisa especial, uma coisa rara. Aos vinte anos tinha estado apaixonadamente certo: nas profundezas do mundo havia um ponto de luz que fora feito só para si e que havia de se aproximar de si para iluminar, e a mais ninguém."

Yukio Mishima, "O Marinheiro Que Perdeu As Graças Do Mar"

segunda-feira, julho 11, 2016

Uma alegria que não é deste mundo


Que longo caminho desde 2004, na final de todos os sonhos desfeitos. Ainda assim, com jogadores de coração endurecido, de carregadores de piano, cínicos pragmáticos e realistas, unidos em irmandade para o melhor e para o pior, a Selecção surpreendeu. Como em qualquer conto de fadas, depois dos percalços menores (meros tutoriais) ultrapassados a ferros, e com o príncipe encantado fora de combate, os heróis apareceram quando menos se esperava frente à apocalíptica besta negra que nos devora e humilha à 40 anos. Quão irónico e delicioso foi este volte-face quando o coração de todos tremeu com aquela entrada do Payet, e todos achávamos que íamos levar 4 ou 5. Eu achei que íamos levar 4 ou 5. Mas ser a equipa dos empates deu jeito. Aguentou o barco para o patinho feio se lançar num canto do cisne final sobre o monstro.
Que bem que nos fica esta redenção depois de tanto sofrimento e tanta frustração acumulada ao longo dos anos.
Que bem que nos fica esta alegria que não é deste mundo.

sexta-feira, julho 08, 2016

IGNITION COUNTDOWN - 1 WEEK LEFT


SEXTA-FEIRA (15.JUL)
THREE TRAPPED TIGERS
TIJUANA PANTHERS
BALA
ASH IS A ROBOT
GRANADA
VIRCATOR
BLUEBERRIES FOR CHEMICAL

AFTERHOURS C/ FESTA LARGO:
BRICOLAGE
RE.ZX

SÁBADO (16.JUL)
WAKING AIDA
FILHO DA MAE + RICARDO MARTINS
MATATIGRE
THE MIAMI FLU
DESLIGADO
MUAY
MILHOMES

AFTERHOURS C/ FESTA LARGO:
FATNOTRONIC
RND3

segunda-feira, julho 04, 2016


"Os fantasmas do mar, dos navios e das viagens oceânicas existiam apenas nessa gota verde brilhante. Mas por cada dia que passava, mais os odores abomináveis da vida em terra se colavam ao marinheiro: o cheiro da família, o cheiro dos vizinhos, o cheiro da paz, do peixe frito, das piadas e das mobílias sempre imóveis, o cheiro dos livros de contas, da casa e dos passeios de fim-de-semana... todos os cheiros pútridos que os homens da terra deitam, o fedor da morte."

Yukio Mishima, "O Marinheiro Que Perdeu as Graças do Mar"

domingo, julho 03, 2016

Montauk


Montauk parece ser o destino de eleição para corações desfeitos se encontrarem. Se eu tivesse sido mais pró-activo em 2007 ou 2008 quando me falaste do eternal sunshine of the spotless mind, podia ter chegado a essa conclusão antes de ver um mcnulty cínico a escrever romances cinzentos junto à praia, sobre casos amorosos e sobre traição. Há erros que temos de cometer, penso eu, Houve muitas oportunidades para ver esse filme  ao longo dos anos, mas o momento para o ver não me pareceu o acertado. E eu sou homem de momentos. De arrufos. De silêncios e explosões. É inegável que nesse campo, estávamos bem um para o outro. Em Montauk ou noutro lugar qualquer. A começar o errado, a partir o partido, e a recuperar o perdido. Como desmemoriados, e como traidores. Porque há erros que temos mesmo de cometer, mesmo quando já sabemos que são erros, quando, no fim do dia, no fim da linha, há uma hipótese de amor mais puro que qualquer outro.